HANNIBAL LECTER NA PARVÓNIA: Era inevitável: o caso de Santa Comba trouxe à tona um batalhão de aspirantes a Clarice Sterling; ele é "passagem ao acto", ele é "retrato psicológico do psicopata", ele é tentar meter o Rossio na Betesga: conciliar uma colecção de louvores e décadas de boa vizinhança com a "personalidade do monstro". Por entre a gelatina psicológica, ainda ouvi alguém dizer que tinha de se tentar aperfeiçoar um método predictivo e preventivo. A maior parte da psicologia é uma colher de água no deserto imenso: mais sólida do que uma miragem, mas igualmente inútil. É uma disciplina preguiçosa, que na maioria das ocasiões ignora absolutamente as teses da falsicabilidade e que se entretem a repetir o que gostamos de ouvir. O tipo é "obviamente um psicopata" depois de ter cometido os irremissíveis crimes. Peguemos no exemplo do teste predictivo: a ideia assenta no pressuposto de que a cabeça de um homem de 30 anos já contém os elementos psicopáticos que o poderão levar a esquartejar adolescentes 20 anos mais tarde. Estes vendedores de banha da cobra nunca sairam de uma concepção determinista e atomista da psique: estão convencidos que todas as nossas acções estão pré-determinadas e que se encadeiam ordenadamente. Fantasiando-se detentores dos segredos de Elêusis, cuidam ser indispensáveis para nos explicar o que somos. Delírios.
Excelente comentário ó leopardo :) Não esqueças contudo as excepções. Esses tipos que falam assim terão aos 50 anos a mesma sabedoria que tinham aos 30. Qualquer avaliação ou entrevista psicológica que façam (ou melhor, que traduzam) será até final o único instrumento e emocionante razão de vida (ou de cátedra?).
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