A NOSSA BANDEIRA: Foram precisos trinta anos sobre o vinte e cinco do quatro para os portugueses se afeiçoarem à bandeira do seu país. Durante esse tempo, ter orgulho ou simplesmente gosto na bandeira portuguesa era estupidamente visto como uma coisa salazarenta ou parola. Admito que esta é a mais feia bandeira que Portugal já teve (e teve tantas tão lindas!... resta-nos a satisfação desta ter sido das melhorzinhas que na altura foram propostas, com excepção dos projectos de Guerra Junqueiro, um da Comissão Portuense e a Das Quinas Portuguesas, todas elas das cores azul e branca - isto sem qualquer conotação futebolística). De todo o modo, é a bandeira que temos e temos de gostar dela e de a respeitar, mesmo que ela apenas nos tenha sido devolvida através da bola.
Não descortino nos livros escolares actuais muitas referências à bandeira nacional, mas folheando os antigos encontro inúmeros textos sobre a mesma e sobre o seu significado. Explicam-se as cores, os castelos, as quinas, a esfera armilar, a sua importância num campo de batalha, no topo de um castelo recentemente conquistado ou duramente mantido. Esclarece-se o motivo pelo qual se envolvem as urnas dos heróis com a bandeira, indica-se que é uma luz, uma estrela, um farol que nos guia, divaga-se sobre o modo como a devemos respeitar, é-nos dito o que ela simboliza, o que é e para que serve.
Em lado algum encontro alguém que defenda que a bandeira possa ser usada para lhe ser aposta publicidade. Ontem, vinha com um jornal semanário uma espécie de bandeira portuguesa tendo aposta no canto inferior direito publicidade ao dito jornal e a uma instituição bancária, certamente reflectindo a reconciliação entre ambos.
Como as crianças têm de aprender a amar e a respeitar a verdadeira bandeira do seu país, mesmo que isso se inicie pelo futebol, tive de ir comprar uma bandeira a sério. A espécie de bandeira com a propaganda aposta foi, obviamente e de uma vez só, direitinha para o caixote do lixo.
Vasco, já me sinto menos um bocado menos "rara" na minha indignação em relação ao referido "panfleto em pano"; ontem deixei um post da mesma natureza n'O Amigo do Povo.
O ?Expresso? anunciava com espavento a oferta de uma mega bandeira nacional, na edição de 10 de Junho, em co-patrocínio com o BES. Desconfio que muitos leitores não habituais terão comprado o jornal só por causa da dita bandeira. Na minha zona, a edição esgotou com inusitada rapidez. Estando o banco do Divino envolvido, teria sido prudente desconfiar - beware of greeks bearing gifts... - mas julgo que ninguém estava preparado para o desplante e ultraje da ?oferta? de uma pseudo bandeira nacional, com o canto inferior direito na côr verde-cócó-de-periquito e tendo apostos os logotipos do ?Expresso? e do BES. O elementar bom senso ditaria a qualquer cidadão o que o Decreto-Lei n.º 150/87, de 30 de Março dispõe: - ?A Bandeira Nacional, como símbolo da Pátria, representa a soberania da Nação e a independência, a unidade e a integridade de Portugal, devendo ser respeitada por todos os cidadãos, sob pena de sujeição à cominação prevista na lei penal.? (artº 1º); - ?A Bandeira Nacional, no seu uso, deverá ser apresentada de acordo com o padrão oficial e em bom estado, de modo a ser preservada a dignidade que lhe é devida? (artº 2º, nº 2).
Haverá, provavelmente, doutos e refinados pareceres que excluam os atrevidos empreendedores deste feito do disposto no artº 332º do Código Penal. Mas, enquanto comprador do ?Expresso?, não posso deixar de considerar que fui, de facto, induzido em erro, por uma publicidade manifestamente enganosa quanto às características do bem disponibilizado (bandeira nacional). Pela parte que me toca, o pedaço de pano em causa foi directamente para o lixo, juntamente com a reputação das ?marcas? envolvidas. Fica-me de lição: não acredite, se oferecer o ?Expresso?...
P.S. ? Na dita bandeira, ou, melhor dizendo, faixa publicitária, a forma dos cinco escudetes e a iconografia dos castelos também não me pareceram muito ?canónicas?, mas os especialistas de heráldica melhor opinarão...
Sobre a bandeira distribuída com o semanário, estamos perfeitamente de acordo, pois acho uma falta de respeito aliada a uma forte dose de estupidez adulterar um símbolo nacional.
Sobre as bandeiras que muitos dos portugueses penduram ou afixam, seria interessante ver quantas estão viradas ao contrário ou até de pernas para o ar, coisa que também por vezes acontece em edifícios públicos e privados, o que me faz desconfiar de que muitos não sabem ao certo como ela é na realidade.
Bastará porventura perguntar qual é a cor que fica junto ao mastro, para, de repente, muita gente que a tem escarrapachada na varanda ou na janelinha, se atarantar com a resposta.
Sobre a sua beleza não me pronuncio, pois gostos são gostos... e a função da bandeira é servir de guia ou sinal e não objecto de decoração, goste-se ou não do seu desenho.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.