O GRUPO: É um grupo de homens que estão todos na casa dos quarenta, mais coisa menos coisa. Conhecem-se alguns há mais de 30 anos, outros há 25, nunca menos disso. Continuam amigos e continuam a encontrar-se regularmente: em combinações de dois, três ou quatro; frequentemente reunem-se todos. Ao longo dos anos espalharam-se por cidades, profissões, casamentos e divórcios. Ao contrário do que possa parecer, esta situação é deveras extraordinária nos tempos que correm. Aqui há um par de meses, o Pedro Picoito atirava-me um osso: escreve aí qualquer coisa sobre o excesso, enjoativo, da necessidade de "afecto" nas relações actuais. Aqui está um bom pretexto. Uma das razões pela qual este grupo se conserva é porque são todos amigos, sem o serem. No sentido actual do termo, amigo é uma mistura de confidente com cúmplice. Coisa perigosa, que tende a durar pouco, já se vê. A amizade feminina é assim, e por isso é mais volátil que promessa eleitoral . Este grupo de amigos, por razões misteriosas, constituiu-se como uma família alternativa: não há necessidade de se darem todos extremamente bem. Como numa família das antigas, nem todos têm entre si o mesmo grau de proximidade nem a mesma intensidade de relacionamento. Gravitando em torno do grupo propriamente dito, foram-se agregando relacionamentos novos ( poucos), filhos e, inevitavelmente, as mulheres: tão essenciais quanto substituíveis. Os homens deste grupo não precisam uns dos outros para viver, trabalhar, fornicar, ver futebol, escrever. Ocasionalmente trocam favores, como é normal. A intimidade de cada um deles fica com cada um deles e só muito raramente é posta na mesa. Em primeiro lugar, o tempo. Quando olham para trás, agora a meio das sua existências, percebem que, sem saberem exactamente como, construiram uma coisa. Essa coisa ultrapassa largamente as suas capacidades, individualmente consideradas. O grupo faz parte das suas vidas, já não é uma opção. Como é que lá chegaram? Retomemos a tese inicial: eles nunca foram confidentes nem cúmplices estratégicos. Desenvolveram gostos diferentes, têm carros diferentes, clubes diferentes, livros diferentes, partidos diferentes. Uns são pais de família, outros pingam amores, uns são ricos, outros são pobres. Quando a morte começar a sua monda, o grupo ficará : ele nunca existiu, só os amigos existiram. E esses continuarão tranquilamente a encontrar-se.
o que eu gostei ainda mais foi do pedido do Pedro...
"o excesso enjoativo de necessidade de afecto"... nem mais ";O)
A diferença entre mulheres e homens neste campo também penso que seja assim, ainda que haja quem saia à regra. Nesses casos funiconam em grupo, como este exemplo que me pareceu delicioso
Quem espera sempre alcança (e de que maneira). O mais curioso é que o pedido tenha desinquietado duas pessoas pelas quais o meu próprio afecto tem vindo sempre a crescer... Estarei a ficar velho?
Ehehe Pedro, não digas ?disparates etários? Beijoca
Concordo com a diferença entre sexos precisamente porque o Filipe traçou aqui uma forma de amizade bem diferente dessa obrigatoriedade de empatia e cumplicidade em todos os aspectos. E é verdade que as mulheres levam sempre essas coisas mais a sério.
Os homens tendem a permanecer mais infantis precisamente porque não precisam de saber muito de alguém para ?dar uns toques na bola?, para terem umas conversas de café, ou umas idas aos copos em grupo. É esse tipo de convívio mais desprendido, sem intromissão na alma que gera as amizades duradoiras. Não digo que não haja mulheres capazes do mesmo, mas são uma minoria. E então sem tricas nem se fala...
Por alguma razão tenho tão poucas amigas. Poucas e bem diferentes
Do mesmo modo que entendo que seja sempre necessário uma ligeira dose de "sedução sexual" para os dois sexos serem amigos.
Não será exactamente assim: no grupo que descrevo, o relacionamento não é só à base de larachas. Esses grupos masculinos não só não sobrevivem tanto tempo como não têm a mesma identidade. Mas é verdade que uma certa amizade masculina à moda antiga dispensa a tensão voyerista (feminina). Neste grupo, singular de cada vez que se repete noutras paragens, o laço é a construção + o tempo. Podia dar um exemplo mas teria de entrar em aspectos pessoais. Tenho pena, porque era um belo exemplo.
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