A OUTRA METADE: Na sua crónica na Sábado desta semana, J. Pacheco Pereira volta à carga contra a "futebolândia" em que Portugal se transformou, contra a forma asfixiante e avassaladora como o futebol esmagou o espaço público em Portugal. Penso que tem toda a razão e que urge lutar contra essa apatia que se apoderou da população, esse desinteresse pela sociedade e respectivo destino ou destinos. Sim, porque o interesse nacional pelo futebol não é complementar, mas sim eucalíptico. Tudo o resto deixou de existir ou deixou de interessar. Tornou-se normal que um telejornal abra com a lesão de um suplente num treino do Benfica. Esta alienação não é saudável deve ser combatida. No entanto, parece-me que fica por contar a outra metade da história: o que motivou o actual panorama? Para além da importância da televisão (e dos media, em geral) e da sua involução para o "dar ao espectador aquilo que ele quer ver", que patrocinou torrentes de tele-lixo, penso que os grandes responsáveis pela actual situação são os políticos, em geral, e aqueles que governaram o país nos últimos anos, em particular. A triste realidade é que os últimos anos de Portugal como nação foram uma sucessão de trambolhões em direcção ao abismo. Os nossos políticos e governantes foram fieis exemplos de irresponsabilidade (extensível a toda a justiça), incompetência, compadrio, amadorismo e leviandade. Não é por acaso que, ao fim destes anos todos de democracia, o Estado social está falido, a despesa (administração) pública nunca sofreu qualquer dieta - apenas foi engordando - a justiça não funciona, a educação e a saúde estão como se sabe, o país arde todos os anos, o sistema político faliu mas nunca ninguém lhe tocou, o parlamento descredibilizou-se completamente, nunca ninguém é responsável por coisa alguma, política ou judicialmente, etc. Não foi por acaso que as últimas eleições, legislativas e presidenciais, foram ganhas com campanhas descaradamente mentirosas. Perante isto, a população perdeu qualquer réstia de confiança no tratamento de assuntos sérios e importantes para a sociedade, descobrindo que o seu voto, verdadeiramente, nunca serviu para nada. A certa altura a população ganhou uma certa repugnância pelas mesmas mentiras de sempre, na boca das mesmas personagens de sempre, sentindo na pele a degradação do país ao arrepio dos discursos de circunstância. Em simultâneo, aparece uma selecção de futebol com qualidade, competência, profissionalismo e carácter. Capaz de competir com qualquer um no mundo. Que recupera o orgulho nacional e que renova a esperança, de forma abstracta, num sucesso colectivo. A opção parece óbvia. Por muito que nos custe, o futebol ganhou "no campo" e substituiu um produto descredibilizado - pelos seus próprios intervenientes - pela sua imagem de sucesso. Paradoxalmente, no mundo da fantasia (i.e., no futebol) triunfamos com profissionalismo, competência e carácter. No mundo real (i.e., na política) triunfa a fantasia.
Absolutamente de acordo. E mais. Somos agora uma sociedade de consumistas. Os nossos únicos objectivos são sobreviver àqueles últimos dias do mês sem dinheiro, alienando-nos o melhor que podemos para, a seguir, procurarmos o novo modelo de telemóvel. Ninguém se sente com capacidade de mudar seja o que for nas suas miseráveis vidas, de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Se não se pode melhorar só resta a alienação. Quem será que nos levou a este caminho do consumismo e alienação??? Dou-vos uma pista: já teve dois apelidos ligados por um «e»...
Com a devida vénia, informo que coloquei ipsis verbis um post tirado daqui. Espero que não levante problemas de copyright. http://novomundo.blog.pt/876481/
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