"A QUEDA DE JERUSALÉM": É o título de um post do Luís Januário, em A Natureza do Mal, que lhe valeu a acusação de andar a dar "palmadinhas nas costas aos fanáticos judeus". Quando o Luís Januário é acusado disto, podemos ver como está o debate. Um dos meus interlocutores favoritos nesta área é Edward Said, ícone cultural da resistência palestiniana e autor , escorado em Focault e em Gramsci, do conceito de orientalismo. Aprendi a lê-lo, discordando frequentemente, mas respeitando sempre dois pontos: a posição humanista e a seriedade intelectual . Uma das dificuldades que Said reconhecia no processo de coabitação israelo-palestiniano era a longa história de sofrimento e condenação do povo judeu. E reconhece-a sem grande esforço porque essa história foi, até ao nazismo, quase sempre escrita pela Europa cristã. Drumont, o autor de "Les Juifs contre la France. Une nouvelle Pologne" ( editado pela Librairie antisémite, Paris, 1899) cristaliza, exemplarmente, esse esforço: "À pobre França cristã, envenenada pelo sangue judeu, (que como refere e bem Sternheel, "treme cercada por estrangeiros, metecos e judeus") só resta o exemplo nacionalista da reacção polaca". O nacionalismo, árabe ou sionista, era o grande adversário de Said. Mas como ele reconhecia, havia o problema da História. O boletim da Internacional Situacionista de Outubro de 1967, implacável para com as elites árabes, fazia uma curiosa análise da Guerra dos Seis Dias: "Israel tornou-se o que os árabes , antes da guerra, lhe censuravam: um estado imperialista, comportando-se como as mais clássicas forças de ocupação; e no interior desenvolve-se um delírio colectivo dirigido pelos rabinos em prol do direito imprescindível de Israel às fronteiras bíblicas". A cronologia é um detalhe sempre interessante. A invasão do estado de Israel no dia seguinte ( 15 de maio de 1947) à sua criação, bem antes dos acontecimentos de 1967, não ajudou nada ao apaziguamento dos tais delírios colectivos. O que sempre me impressionou foi que, apesar dos rabinos e dos vizinhos, Israel conseguiu pôr de pé uma democracia. Tratou mal os palestinianos residentes, algumas vezes tratou-os como cães, é certo, mas fez da história da sua ignominiosa perseguição um estado essencialmente tolerante. Nas guerras que travou, matou como não se deve matar, sem dúvida. Mas nos últimos anos, dando razão a Said, Israel deu passos seguros no caminho da paz, como a (jocosamente retratada) retirada dos colonatos. Agora, os vizinhos juram a sua destruição. Pelos mesmos motivos de sempre. O mundo de hoje já não comporta nenhum sonho sionista, podem arrumar as bandeiras e as culpas. O ódio a Israel, naquela zona, é o ódio ao modo de vida ocidental . Se eles - os que fazem de Deus um partido e os que juraram riscar do mapa uma nação - ganharem, nós perdemos.
não há ódios a Israel pela parte do Ocidente. Pode é haver cabeças quentes que mitificaram o judeu errante dos tempos de Holocausto è, à custa disso, nem se dêem conta que nuns casos de terrorismo de metropolitano preferem a negociação, nos outros escolhem combater o Infiel ao lado de Israel...
O que temos pela frente chama-se política e interesses internacionais. Em nada diferentes da Invasão do Iraque. Se apoiam agora tudo o que se faça por Israel à custa dos velhos complexos e mitos do judeu errático, então façam o favor de dar um cheque em branco aos americanos.
Afinal esses é que têm feito o trabalho sujo. Não será justo esquecerem-nos e não lhes reconhecerem o valor.
Quanto a democracias já o expliquei- NUNCA conseguirei encontrar as vantagens na prática da barbárie só pelo facto de ser democrática.
Do mesmo modo, nunca consegui entender o mito da eugenia, dos povos eleitos, da superioridade rácica.
Quero dizer, não consigo porque nunca me agradou o ideal nazi.
E estranho sempre que quem odeie o ideal nazi consiga gostar dele em mudando de protagonistas.
Costuma dizer-se nestes casos que é a velha história da filha da putice. É bera mas são os nossos filhos da puta...
Pois, por mim passo. E nem critico que eles combatam da mesma forma que os outros. Pelo simples facto que há muito que acho que fazem parte da mesma matriz.
e ainda assim até sou capaz de preferir as posições pragmáticas. Em guerra não moral. Há interesses. Não sei se faz szentido mas é possível que precisemos de Israel. Que não possamos deixá-la cair.
È um tampão. O resto é fazerem-se as contas a vantagens e gastos e ao preço do petróleo.
Quanto aos métodos já disse- são iguais. Alguns com muita pinta como aquele míssel em cima do sacana do terrorista paralítico.
Do que não gosto mesmo nada é da ideologia religiosa. Quase diria que a islâmica é menos retorcida. Pelo menos em teoria é mais limpa e menos patológica.
Como não falei de "cheques em branco à custa do mito do judeu errático", é impossível rebater o teu comentário, cara Zazie. Mas noto um certo frenesim.
falaste no problema das vinganças judias. Acho que mesmo sem cheque em branco tinhas aí muita coisa para justificar em termos políticos.
Deixo a lista
1- política internacional e invasão do Iraque e respectivas consequências de vinganças a que estamos a assistir-
2- interesses de Israel nessa invasão e defesa que com ela tinhamos o caminho para a paz
3- Constatação de que nós, europeus, nunca teremos de optar entre o islão e Israel ou o islão e o judaísmo porque nunca foi isso que esteve em questão.
No máximo teremos políticos a apoiar ou não apoiar intervenções militares por essas bandas com as desculpas do caminho para a democracia.
4- Que a moral ou a religião ou os mitos das personagens e da História não servem para tudo e muio menos para se branquearem terrorismos à custa delas
5- Se tomamos partido pela democracia e a consideramos um valor superior a usar em todas e quaisquer circunstâncias, então não podemos branquear todos os actos que se opõe a essa superioridade civilizacional.
Note-se que quem considera a democracia essa tal personagem como pau para toda a obra não sou eu.
Cara Zazie, Agora já há alguma coisa. Antes disso: o remoque da negociação, como te respondi na caixa do Mal, não serve: Israel passa a vida a negociar e eu sou "um pobre homem de letras", não te esqueças. Aliás, li recentemente um belo artigo sobre o assunto para pôr aqui na nau. Se o teu ponto é a barbárie da democracia das "putas e da paneleiragem" ( é conveniente ler o que a Zazie afixa nos comentários da Natureza do Mal), tens toda a razão. Noutra ocasião discutirei a coisa sem temores ( não estou comprado pelos "fanáticos judeus", não receies) . Fica é por saber por que motivo te faz tanta espécie a História. Logo a ti, que tanto gostas dela.
Filipe, obrigado por teres aprofundado a discussão. Nos comentários havia alguém que mandava ler o blog da Jiahd. Era o que eu achava que devíamos fazer, e disso não isentava a Zazie. Ler o blog da Jiahd, e depois voltar ao debate.
Luís: como talvez tenhas acompanhado, frequentemente navego pela blogosfera islâmica: é impressionante a facilidade com que nos esquecemos que muitos muçulmanos e árabes não partilham da vontade obscurantista dos fanáticos. Por que motivo havemos nós de o fazer? um abraço de um nazi-sionista ( já te inscreveste?)
Não me faz espécie a História. O Luís também não compreendeu. Disse o excesso de História no sentido que Nietzsche lhe atribuiu. Há tempos fiz um mini post sobre o assunto. Aqui. http://cocanha.blogspot.com/2005/06/mas-o-homem-tambm-se-admira-de-si.html#comments
De qualquer forma ou se trata o assunto do ponto de vista meramente político ou, se derivamos para as tradições e para os personagens ?judeu errante? judeu do holocausto? versus Islão medieval do Al Andaluz, só perdemos tempo. Tudo isso acabou há muito.
O blog da Jihad há-de fciar para quando tiver tempo. Mesmo sem ele já há por aqui demasiada contradição para se tratar.
Do lado do Luís- religosas, do teu lado- este súbito despertar revolucionário para quem tanta negociação defendeu por alturas dos atentados...
Sobre este assunto, ainda continuo a achar que um dos textos que equacionou algumas questões de forma original e pertinente deve-se ao Paulo Varela Gomes e até continua online no seu ex-blog (Cristóvão de Moura) só algumas que aquilo tinha de ser muito mais desenvolvido.
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