SÉRIE AFEGÃ (I): Conforme anunciei, esta série complementa a anterior ( OS EUA E O NARCOTRÁFICO). Os americanos continuam a ter o principal papel, mas o território e o seu contexto justificam uma designação propria. No passado mês de Maio, uma liga de agricultores reuniu-se em Kabul e apresentou uma resolução ao parlamento: queriam uma licença especial para produzir ópio destinado a fins lícitos. Faz agora um ano, um relatório intercalar do UNODC ( United Nations Office on Drugs and Crime) previa o sucesso das campanhas de erradicação lançadas pelo governo de Karzai. Na página 3 do referido relatório ( The Opium Situation in Afghanistan as of August 2005) lê-se que o sucesso das medidas de erradicação é inquestionável e que o povo está de acordo com elas. Não bate a bota com a perdigota, pois não? Em 2005, na província de Helmand, plantaram-se 26.500 ha, número que subiu para os 40.000 em 2006. Um pouco estranho se tomarmos em conta o "entusiástico apoio às medidas de erradicação", não vos parece? Helmand produz 25% do ópio afegão, ou seja, cerca de 20% do ópio mundial. Esta província ocupa um território de 23.000 km2 e neste momento os soldados britânicos estão a ocupar o lugar dos americanos. E estão com muitos problemas. Tantos que já se prevê que, nos próximos meses, o controlo da situação mude de mãos. Os taliban aproveitam-se do prejuízo causado aos agricultores pelas campanhas de erradicação e lançaram um opium tax: em troca de dinheiro ( ópio, que é a moeda local) fornecem defesa contra o governo de Karzai. Tudo dentro da lei. Como se diz por lá, existem três governos: o dos estrangeiros, o de Kabul e o dos taliban.
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