DR. MABUSE: Serei, por razões que não vêm ao caso, o último homem do planeta a julgar outro pela culpa que carrega. Não me interessa se Grass confessa agora porque receia ir para Inferno ( provável) ou porque quer promover o livro ( pouco provável) . O que se segue prende-se com outra viagem. Gunter Grass é um ícone de uma esquerda moraleira que não sabe bem como descalçar a bota: não, não foi aos 14 anos, foi aos 17, e sim, alistou-se na Schutzstaffel ( SS) , tendo cumprido serviço na 10ª Divisão Fundsberg. E sim, confessou ( só) agora e "isso só lhe acrescenta grandeza". Não, não acrescenta. Grass tem sido um moralista insuportável durante todos estes anos ( uma estucha) e um crítico do "capitalismo" e da "globalização" ( um direito inquestionável) , daí a a sua popularidade no sector esquerdino ( porque também há o outro) do pessoal de dedinho em riste e voz esganiçada. Na entrevista que agora toda a gente lê, Grass diz que quer combater a ideia de que os alemães foram vítimas involuntárias de Hitler: " Claro que os alemães foram seduzidos, mas muitos envolveram-se com entusiasmo". Vejamos o que este incorrigível moralista dizia em Novembro de 1999, já depois de ter recebido o Nobel, em entrevista ao Magazine Littéraire:
" Fiquei marcado desde a minha infância pela militância na Juventude Hitleriana; era uma dessas crianças marcadas com um ferro em brasa, sempre tive desprezo pelos anti-semitas. Mas devemos viver com o facto de que existem grandes autores que se deixaram seduzir."
Grass referia-se a Gottfried Benn e, sabemos agora, a outros grandes autores.
Estou de acordo, o que houve até de mais repugnante na intervenção pública de Gunter Grass foi a indulgência com que tratou o regime da RDA. Todavia parece-me existir um preconceito ideológico na tua abordagem pelo facto de GG ser das poucas personalidades conhecidas que fez o percurso (pouco habitual) da direita para a esquerda, não é certamente objecto da tua crítica a passagem de Pacheco Pereira da extrema-esquerda para a direita ou de Silva Marques do PCP para o PSD
Grass não fez nenhum percurso da direita para a esquerda. Em 1967 teve de ir a tribunal porque o acusavam de blafesmo e pornografo ( mais ao estilo de Pasolini...). Pertenceu ao partido social democrata durante 30 anos, mas boa parte desse tempo utilizou-o em reuniões clandestinas com escritores de Berlim Leste. Não era possível traçar, até à altura em que aderiu à anti-globalização e etc., uma orientação " de direita". Não tenho nenhum "preconceito ideológico" contra trajectórias específicas ( antes pelo contrário) nem me parece que o post seja sobre isso.
"Gunter Grass é um ícone de uma esquerda moraleira (...) Grass tem sido um moralista insuportável durante todos estes anos (...) daí a a sua popularidade no sector esquerdino do pessoal de dedinho em riste e voz esganiçada"
Não, JP: é sobre alguém que dá lições de moral a torto e a direito iludindo-nos sobre o que faz em sua casa. É indiferente se veio da direita para a esquerda ou vice-versa, mas já percebi que não queres perceber. Saudações benfiquistas.
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