ERVAS PERIGOSAS: De pouco terá valido a Cristovão da Costa e a Garcia da Orta terem descrito, há mais de 400 anos, as propriedades da datura. Este sinceramente vosso também já há anos publicou um pequeno artigo sobre as drogas europeias esquecidas, recebido com tanta indiferença quanta a dos alunos a quem tenta cativar para o tema. A belladona e a datura, comuns na Europa desde a Idade do Bronze ( pelo menos) , dispensariam boa parte da parafernália de drogas sintéticamente duvidosas e outras geopoliticamente causadoras dos maiores dissabores. Enfim, adiante. A planta que o grupo de amigos madeirense utilizou - e que provocou a morte de um deles - tem de ser utilizada com muito cuidado. A origem do nome datura é obscura: tanto pode advir do indiano dhatura, dhat sendo o nome do preparado obtido a partir dela ( Rudgley) como do baptismo de Lineu a partir do verbo dare, significando a oferta de poderes sexuais ( Heiser). Cristovão da Costa, em 1576, alinhava várias designações: datyro ( árabe) datulo ( turco), unmata caya ( no Malabar, unmata siginificando, segundo Rudgley, "loucura divina"). A designação portuguesa actual -erva trombeteira - deve-se à forma em cone das sua flores. Cristovão da Costa já na altura avisava que se tomada em excesso mata. Amato Lusitano, nas suas anotações ao Livro Primeiro de Dióscorides, apontava uma das espécies da datura, a stramonium, como a mais rica em produção de sensações e perigos. E é. A datura mima-nos com três alcalóides: hiosciamina, escopolamina e atropina, cujas propriedades são tantas que seria fastidioso enumerá-las. A beladona, que também apresenta (embora em proporções diferentes) os mesmos alcalóides, já causou diversas mortes em crianças por causa da tentadora beleza das suas bagas. E o problema está precisamente aí: a concentração tóxica varia de planta para planta e o seu efeito no utilizador também, havendo quem tolere mais e quem tolere menos. Lautréamont descrevia Maldoror como tendo a boca cheia de folhas de beladona, e o Conde não é leitura para meninos.
Porém, faço umas pomadas de bagas de Beladona que fazem as delícias de muitas Belas Donas. Ah! E uns charutos com as folhas que me aliviam muito os achaques de asma...
Hummmh...Essas pomadas são especiais. Conta-se que um italiano malandro, de nome Leucota, despachou algumas vítimas femininas com suco das bagas mas eu cá acho que primeiro ele divertia-se . E muito.;)
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