MAUS CAMINHOS: A ONU vai publicar em Outubro o UNODC's Annual Opium Survey for Afghanistan, mas já se sabe alguma coisa. E o essencial é isto: dos 104.000 ha de 2005 passou-se para 164.000 ha em 2006. Ou seja, o cultivo da papoila dormideira cresceu 59%. A estratégia até agora seguida, apesar de comprovadamente errada, não é posta em causa pelo director executivo do UNODC, António Maria Costa. Nem poderia ser, pois este senhor jura por ela a pés juntos desde 2003. Até agora injectou-se dinheiro ( boa parte dele perdido nas malhas da corrupção, segundo o sr. Costa), construíram-se tribunais e centros de detenção e fizeram-se algumas insignificantes operações de erradicação ( queima de terrenos de cultivo). O UNDOC é teimosamente conservador e aferra-se no exemplo do Laos (1) - o cultivo de ópio desceu 45% de 2004 para 2005 - para justificar a sua teimosia. Como é óbvio, não existe comparação possível entre os dois territórios, e outras coisas se poderiam explicar a Kabul (2). Esta gente ainda não aprendeu - pasme-se ! - que a geografia e a política é que ditam as estratégias de redução das drogas e não o inverso. Como a situação é, reconheça-se, muito difícil ( e disso o UNODC não tem culpa), o que se conseguiu no Afeganistão foi entregar a produção de ópio aos taliban e demais warlords. Como é natural, grande parte da resistência armada está a ser financiada pelo dinheiro da droga, ainda que o UNODC diga - assim como quem espera um milagre - que a produção está neste momento 30% acima do consumo global. Chega a ser estonteante como este pessoal despreza a história das drogas: nunca se queimaram excedentes.
(1) A seu tempo o trarei ao Mar Salgado. (2) Não existe apenas a estratégia da repressão pura e dura, sobretudo quando os agricultores vivem na miséria que é aproveitada por milícias ou bandos armados. Diferentes realidades exigem, parcialmente, diferentes estratégias: uma delas poderia ser a legalização controlada do cultivo numa primeira fase ( falaremos do exemplo turco dos anos 70 noutra ocasião) do plano. Por outro lado, quando a situação ainda estava razoável, se em vez de construirem tribunais e centros de detenção ( tão essenciais quanto desocupados) tivessem feito que se fez no Laos, do qual o sr. Costa tanto fala, as coisas poderiam estar um bocadinho melhores. Também a isto voltaremos quando pudermos.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.