" UMA CONSPIRAÇÃO DE ESTÚPIDOS ": Com licença de JK Toole, o documentário exibido ontem na RTP, atribuindo a autoria do 11/9 a Bush e demais corruptos, constitui o primeiro episódio. O segundo, abundantemente repetido pelo canoros da opinião, assenta neste original bidé do pensamento: as consequências militares do 11/9 "justificam" as teses purificadoras da padralhada de turbante armadilhado. Muito bem, vamos por partes. O documentário de ontem , ao qual assisti interessadíssimo, demorou uma eternidade a apresentar "provas" segundo as quais o 11/9 foi uma conspiração americana. Algumas dessas "provas" estavam bem esgalhadas, outras provocavam o riso: a temperatura do fuel a arder dentro das torres não era suficiente para derreter o aço, mas uma temperatura inferior, provocada pela existência de bombas nas caves, já foi responsável pela implosão do edifício. Adiante, que não sou engenheiro. O que eu queria era saber o "quem " e o "porquê". Eis então que os autores do documentário me revelam a luz: uma informação recolhida na Wikipédia (!!!) indiciava a presença de ouro nas caves dos edifícios. O documentário, até aí detalhado e exaustivo, colapsa em segundos: ouro-Kuwait-Bush-Rudy -pretextos -para -a -guerra e coisa e tal. Estas inanidades só são úteis por um motivo: os alegres cineastas repetiam à exaustão que "nestas coisas é sempre preciso ver quem aproveitou com o crime". Pela mesma lógica peçonhenta, no próximo aniversário dos atentados de Madrid, a RTP passará uma peça destas explicando que foi Zapatero que encomendou o atentado de Atocha. Edificante. A segunda parte do belo raciocínio põe o livro a começar a meio, como é próprio dos aldrabões. Como se até ao 11/9 , da Síria ao Irão, não estivesse já em pleno movimento um rolo compressor das mais elementares liberdades civis; como se Sourosh já não tivesse emigrado há muito; como se Naquib Mahfuz não tivesse sido já esfaqueado à porta de casa; como se os Budas milenares não tivessem sido já dinamitados; como se muitas comunidades islâmicas na Europa não estivessem já sequestradas pelos fanáticos; como se o 11/9 tivesse sido uma estreia. Entre outras razões, uma explica esta desgraça intelectual: de há 40 anos para cá que esta gente só raciocina ( perdoem-me o exagero) quando os americanos apontam o dedo. Recentemente, viajaram com os ianques para todo o lado: Sarajevo, Mogadíscio, Kabul, etc. Tenho visto gentalha preguiçosa, que nunca leu uma linha sobre a história do Khorasam, dissertar alarvemente sobre a "especificidade da resistência cultural dos pastun ao invasor ocidental". Preocupadíssimos com a confusão entre o Islão radical e o Islão pacífico, nunca gastaram um euro ou uma página com as centenas de pensadores moderados que ao longo de todos estes anos têm fugido da ditadura das madraças e se vão refugiar nas universidades ...americanas. É uma saloiada intelectual, que reage pavlovianamente sempre que os EUA mexem um dedo porque se limitam a ler o mundo pelos olhos dos americanos. O que, como se sabe, nem sempre é recomendável. Igantius Reilly, o personagem de Toole, também julgava que as suas páginas de caderninhos Big Chief continham os elementos de uma nova História comparada. Nos intervalos, rezava.
eu retirei do documentário tudo o que era prova e argumento, fiquei apenas com as perguntas e, mesmo assim, acho que é um documento importante e que essas perguntas deveriam ser respondidas. o estilo é secundário. "Olá mãe, daqui fala o 'mar salgado'" foi um momento brilhante.
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