A AUDÁCIA DO NOVIÇO: A semana e meia das eleições para o Congresso americano um novo nome surgiu como potencial candidato democrata em 2008: Barack Obama, senador do Illinois. Umas curtas declarações, admitindo essa possibilidade, fizeram da sua eventual candidatura um fenómeno mediático de proporções gigantescas. Os media, de olho nas tiragens e audiências, estão desesperados para encontrar um adversário substantivo para aquilo que parecia vir a ser um passeio de Hillary Clinton nas primárias democratas (o ex-candidato a Vice-Presidente John Edwards não parece, para já, estar á altura do desafio). Parte do Partido Democrata considera Hillary Clinton um regresso indesejável ao passado e não uma candidatura de futuro. As sondagens revelam que uma grande parte dos americanos recusar-se-á sempre a votar em Hillary. Este factores criaram o ambiente propício ao anúncio da disponibilidade de Barack Obama. Desde então, o homem já foi capa da Time e tornou-se o candidato-querido dos media. Obama, filho de pai queniano e mãe hawaiana, transporta na sua história pessoal muitos dos elementos que compõem o mito do sonho americano (que aliás ele não se importa nada de lembrar). Um rapaz pobre e filho de imigrantes que, através do trabalho e estudo árduos, ascende fulgurantemente até ao topo da escala social. Com uma brilhante carreira enquanto jurista - foi editor da prestigiada Harvard Law Review, o primeiro afro-americano a ocupar esse cargo - Obama foi eleito em 2004 para o Senado numa eleição quase sem disputa. Os seus críticos apontam-he a falta de experiência política (apenas 2 anos no Senado). Mas a verdade é que a inteligência fulgurante e o talento oratório têm consegudio superar essa eventual falha. Em pouco tempo, tornou-se uma das estrelas mais brilhantes do panorama político americano. Tornou-se conhecido à escala nacional por ter feito um discurso arrebatador na Convenção democrata de 2004. É uma peça de oratória brilhante (ver parte 1 aqui e parte 2 aqui). Esta notável intervenção, ao nível da melhor tradição retórica americana, transformou-o instantaneamente num peso-pesado político (ainda nem sequer tinha sido eleito para o Senado). Intitulava-se a "Audácia da Esperança", slogan que rapidamente se transformou num símbolo de Obama (além de título de um livro). Depois de 7 de Novembro veremos quem se chega à frente. A presença de Barack Obama asseguraria uma corrida bem interessante do lado democrata.
Nuno, vi os dois vídeos com a expectativa que criaste. Obama é, de facto, um orador brilhante. A forma como constrói as ideias e as vai empolgando num crescendo de emoção, permite-lhe explorar da melhor forma a reacção da plateia. Mensagens claras, uma presença agradável e uma energia contagiante. Contudo, tem dois aparentes handicaps: juventude e cor. Se a falta de experiência vai ser explorada pelos adversários, o facto de ser de raça mista pode vir a ser um trunfo. E porquê? Por contraponto à juventude pode escudar-se num discurso enérgico e voluntarioso, passando a mensagem de um homem empreendedor, vantagem clara num país de oportunidades. A sua história, por outro lado, cola-se à diversidade da América, um país em que ser caucasiano pode já não ser uma condição sinequanon para a vitória. Posso estar errado, mas este senador vai dar muita luta à Hillary, ou estarei errado? Grande abraço
P.S. À terceira foi de vez. Preciso de ir mergulhar para ver se os olhos me doem! :D
Caro João, Não sei se ele vai dar luta. Mas é claro que os media o estão a promover. Quanto ao facto de ser de uma minoria (de cor), isso não é necessariamente uma desvantagem. Assegura parte do voto étnico, sndo que noc aso dele não ipede uma imagem moderada proque ele tem sido um senador muito centrista (subscreveu uma série de iniciativsa com republicanos e sendo crítico da guerra no Irauqe, tem-no sido de forma muito responsável). A Hillary é mulher e eleger uma mulher nos EUA é bastante díficil. Provavelmente não tanto como um negro mas seguramente complicado. Obama tem uma vantagem: nunca usou a cor da pele para fazer campanha (ao contráriod a maioria dos políticos negros nos EUA que são eleitos e representam constituencies maioritariamente afro-americanas). Além disso, um dos candidatos possíveis do lado republicano e que desempenha um cargo importante é Condolezza Rice que acumula os dois factores. Parece-me que nas eleições presidenciais de 2008 alguns tabus vão ser quebrados. Curiosamente foram os republicanos os primeiros a nomearem alguém de cor para um caro tão importante como o de Chefe do Departamento de estado (Powell), o que veio baralhar um bocadinho os conceitos estabelecidos de associação exclusiva dos negros com os democratas. Hillary tem um problema sério: nas sondagens há imensa gente (entre 40 a 50% das respostas) que afirma que nunca votaria nela. O grau de feedback negativo que ela provoca é, segundo os especialistas eleitorais um grande hadicap. Não há memória de alguém com tão forte rejeição ser eleito. ela tem uma imagem muito mais radical, de esquerdista que o marido (o país é muito conservador para gostar de uma mulher tão assertiva, cobram-lhe imenso - masi que ao marido - o seu radicalismo anti-Vietname da juventude e ela foi autora do projecto de reforma da saúde que abriu a porta à esmagadora vitória republicana e 1994). Esta imagem não causa problemas no Estado de Nova Iorque, por ond eela é eleita mas no Sul a coisa é masi problemática (aindaassim ela tem uma vantagem aí - como viveu no Arkanas tem uma base de apoiantes leais no sUl que é uma boa base de partida para uma cmapanha aí). Os democratas para ganhar eleiçõs presidenciais têm de ganhar um ou dois estdos do Midwest e do SUl. Sem isso, não há hipóteses. Eu sei que na Europa é difícil compreender isto mas por exemplo mesmo o actual Presidente apenas recentemente (a partir de 2004) passou a ter um grau de rejeição da mesma amplitude. Ainda que muita gente não o apoiasse (ele também nunca foi muito popular) a verdade é que ele não provocava sentimentos de rejeição tão fortes como ela (isto não é válido para os últimos tempos). Claro que montar uma campanha para Presidente nos EUA significa ter de ter uma máquina enorme (dinheiro, estrutura). Esta é a enorme vantagem de Hillary - tem a poderosa máquina de campanha e de poder Clinton ao seu dispôr. Pelo que Obama terá de medir se esta excitação com a sua candidatura se poderá traduzir numa estrutura de campanha eficaz. Agusn especialistas gostam de lembrar a a campanha de Ted Kennedy nas eleições primárias em 1979: a imprensa promoveu-o até ele entrar na corrida e depois de ele ter entrado tratou de o criticar fortemente, permitindo a vitória fácil de Carter. Há cosa universais: quem vive pela imprensa, morre pela imprensa. Vamos ver se Obama tem mais subsância que isso.
Na Europa não sentimos o pulsar da América, de facto, os Media vão-nos entretendo com a guerra santa e o braço-de-ferro entre a Europa e os EUA quanto a matérias geopolíticas. Nas económicas resta-nos sonhar alto e confundir a fiducidade da nossa moeda com a força da nossa economia. A tua análise é cristalina, mas permite-me arriscar dizer uma ou duas incongruências.
A Hillary, na guerra que os republicanos moveram com o caso Monica Lewinsky, acabou por ser vista como a má da fita. Pareceu-me, e posso estar enganado, que o povo americano entendeu dar a confiança ao marido que acabou por ser visto como um missionário ao lado de um megera. Por outro lado, NY representa uma elite intelectual, mas nem assim ela ganhou à vontade. Percebeu-se logo a agenda escondida...
Pela tua avaliação, os EUA arriscam-se a ter uma campanha eleitoral invulgar, para além de um resultado inédito. Duas pessoas de cor; se um é homem e jovem, a Rice é mulher e tem muita experiência. Se o primeiro é casado e tem filhos, a segunda é eclética e workaholic. Se o primeiro é a favor de uma melhor relação dos EUA com o resto do mundo, Rice é um sinal de continuidade num país que ainda não resolveu o seu envolvimento nos conflitos do Médio Oriente. Seria um grande embate e de resultado imprevisível. Talvez a tua profecia velada se verifique.
Grande abraço do quintal mais ocidental do velho continente
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