POÉTICA SINDICALO-JUDICIÁRIA: Por este post de f., descobri hoje a página dos editoriais do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público. Com a devida vénia a f., gostaria de elaborar um pouco mais sobre este fantástico achado. A primeira coisa que me prendeu a atenção foram os títulos. Há-os tensos e literários (este poderia encabeçar um post do Mar Salgado) - nº 2: "A mudança necessária e os mutantes oportunos". Há-os aliterantes - nº 4: "Num ciclo de mudanças, a reforma das reformas: a formação". Há-os neologizantes (e, mesmo, neografizantes) - nº 5: "Um estilo de reformas e uma rentré [sic] judicial a meio gaz [sic]". Há-os intrigantes: - nº 6: "A democracia precisa tanto de um PGR independente como de uma imprensa autónoma e credível". Há-os prequizantes - nº 7 : "Todos os entendimentos que parem a cínica campanha de degradação da justiça são positivos para a democracia". Mas o cume atinge-se no nº 9, denominado, singela e não menos enigmaticamente, "Rejeição". Quem vem dos títulos anteriores, arrepia-se: o contraste é esmagador e quase sinistro. Como A Metamorfose está para Júlio Dinis, como Compassion in Exile para Wagner. Não é, na verdade, um editorial, mas um soneto com epílogo, como mandam as regras. Depois de várias estrofes judiciosas sobre o que escrevem certos "responsáveis de jornais", sobre a "descredibilização propositada, sistemática e destemperada dos magistrados enquanto profissionais, e do poder judicial enquanto instituição, por quem devia ter responsabilidades na coesão e na articulação dos poderes do estado", sobre a conversão das administrações dos países em "agências de competitividade internacional dos grandes interesses económicos", "Rejeição" completa-se, na última linha, com a recordação de um "poeta catalão amigo de Portugal": "Porém rejeito o preço / que nos querem impor / estes homens que ladram / pela boca dos seus cães". Uma página a seguir, portanto, com a atenção devida, na estação chuvosa e melancólica que se aproxima.
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