RESPOSTA AO COMENTÁRIO DE "f" AO MEU POST "QUE QUERIDOS, QUE FOFOS": Caro "f", raramente respondo a anónimos mas sinto-o tão confundido e baralhado relativamente a um assunto que considero tão sério que sinto obrigação de lhe escrever. Não sei qual a sua especialidade nem o conhecimento que tem do que fala - o crime de aborto - mas não leve a mal que lhe diga que, segundo a legislação actual, não basta, como diz no seu comentário, um simples "atestado médico" para se poder abortar até às 16 ou às 24 semanas. No primeiro caso, o aborto só não será punível se tiver havido violação (para utilizarmos termos simples); no segundo, ele só não será punível se houver motivos seguros de que o nascituro venha a sofrer de forma incurável de grave doença ou malformação congénita, comprovadas ecograficamente ou de outra forma suficientemente segura de acordo com as regras da arte.
Há, por isso, razões específicas (existem outras e outros prazos) para o legislador considerar não punível como um crime aquilo que verdadeiramente não deixa de ser considerado um crime (o aborto). Ao contrário do que afirma, o assunto não é pacífico, não é sequer "aparentemente pacífico"; mas é a lei que temos, porque o legislador entendeu que tamanha aberração e crime (o aborto) só deveria não ser punível em situações excepcionais e gravíssimas, de tal forma que a mulher (e o homem, não o esqueçamos embora ele muitas vezes se esqueça das suas responsabilidades) não fosse obrigada a assumir uma criança nestas condições (*).
Isto é muito diferente daquilo de que fala e de que se fala actualmente, que é a permissividade total de se abortar até às dez semanas sem qualquer razão, excepcional ou não, sem qualquer motivo, apenas porque apetece (não me interessa sequer discutir as outras razões que em concreto se possa ter, basta-me o inacreditável da lei permitir abortar sem qualquer razão, porque quero, porque me apetece, porque me interessa, porque me enganei, porque sim).
Nos termos em que as coisas nos são actualmente propostas, é perfeitamente possível (não há outra forma) falar-se de "liberalização" do aborto e, como estão as coisas, vou mesmo mais longe: de promoção do aborto (**)!
Por fim, permita-me que o esclareça de que aquilo que se pretende perguntar no referendo para se instituir como norma, caso ganhe essa posição, não é que seja a mulher a decidir abortar, ao invés do médico, como candidamente supõe. Primeiro: basicamente o médico não tem nada a ver com o assunto, se não for apenas para declarar o perigo de vida da mãe ou da criança (em última análise, confirmar a violação). Em segundo lugar, garanto-lhe que com a liberalização do aborto - e por estranho que lhe pareça -, a mulher fica muito menos "livre" para decidir abortar. Sendo completamente livre, permitido, e (parece-me que é o que se quer) até aconselhável o aborto até às dez semanas, a mulher fica muito mais dependente e sensível às investidas nesse sentido do namorado, marido, da família ou medo dela, e até dos patrões. Qualquer dia, uma mulher que diga ao patrão que tem de acompanhar o filho ao médico recebe como resposta tivesses abortado, poderias tê-lo feito porque era permitido.
Fica assim o ser humano mais permeável às pressões, venham de onde vierem, aos medos, às fragilidades que a situação pode causar. Fica menos livre para decidir e deixa de decidir com clareza num momento que, para a pessoa em causa, já pode ser suficientemente difícil.
Post scriptum: Custa-me a crer que nos hospitais todos os dias se façam voluntariamente abortos, várias vezes ao dia, mas não tenho aqui comigo dados que me permitam refutar essa afirmação (também indemonstrada). No mais, tenho imensa pena de que não tenha compreendido uma das irónicas mensagens do meu post: pouco me interessa o tempo de gestação dos bichos de que falava; mas são tão queridos, os animaizinhos no ventre das mamãs, não são?
(*) Repare, o que não torna o aborto numa coisa boa. Mas estes temas, a cujo debate não fujo em futuro próximo, levariam muitos posts e não são os que estão em discussão no momento. (**) Julgo que estamos todos de acordo em que o aborto é uma coisa abominável.
Post scriptum 2: Teresa (comentadora do post "Falácia atrás de falácia"): o facto de não ser punível o aborto em caso de violação não torna o aborto numa coisa boa. As horas tardias não me permitem agora esclarecer o assunto mas passe pelo Mar Salgado nos próximos dias.
Post srciptum 3/adenda: foi-me dito aos berros que "f" é Fernanda Câncio, jornalista, e que escreve no Glória Fácil, com link apenas aí à direita porque me esqueci outra vez de como se fazem os links.
Eu já matei, deliberadamente, um gafanhoto - e estou-lhe a dar a oportunidade de escrever sobre o assunto. Nos termos em que se põe a questão da liberalização do aborto, penso não estar em causa nada mais imoral do que isso. Eu diría mesmo que a morte do gafanhoto é bem mais chocante, tendo em conta tratar-se de um acto meramente sádico, já que nesse caso nem sequer estava a ser protegido qualquer outro direito superior. Bem, a ideia é: cuidado com a relva onde anda, não vá ficar com problemas de consciência para o resto da vida!
Este post demonstra todo um carácter. O sr VLX para desconsiderar quem lhe fez o comentário, decidiu chamar-lhe anónimo e tratá-lo por "caro f", sabendo que o comentário não é anónimo nem é de um homem. Nem sequer pode o sr VLX alegar desconhecimento, porque se clicar no link "f" aposto no fim do comentário, fica a saber que se trata da jornalista Fernanda Câncio do Glória Fácil. A isto chama-se má educação e descortesia, para não ir mais longe... Anda o sr VLX tão prolixo a querer convercer-nos do seu apego a um feto em início de gestaçãom mas depois nem sequer respeita o cidadão. Quem não vos conhecer que vos compre!
Cara Fernanda Câncio, do Glória Fácil, desculpe-me a falta de conhecimentos informáticos e de hábitos de blogs. Como deve imaginar, desconhecia por completo estes "cliques" todos de que se fala acima e a referência ao anonimato não tem nada a ver com qualquer desconsideração. Acho, aliás, o vosso blog muito interessante, embora não concorde com grande parto das opiniões. Até sempre vlx
Engraçada esta coisa dos cliques. Mas não fiquei a saber quem da Praça Stephens terá ficado tão indignado nem quem é o dos gafanhotos. Inabilidade minha, sem dúvida. Ainda por cima reparo agora que escrevi "parto" e não "parte" no comentário anterior. Como se corrigirá esta coisa para não se pensar que estou a ser ofensivo e não vir por aí desenfreado outro ressabiado vergastar-me? Isto é tudo muito complicado...
Sinceramente não sei no que é que lhe pode adiantar saber o meu nome. De qualquer maneira, se com isso fui pouco cordial, chamo-me Catarina Pardal Monteiro, sou de Lisboa e o meu e-mail é o catchpardalmonteiro@gmail.com.
Não, cara Catch, não acho que tenha sido pouco cordial comigo nem realmente me adianta saber o seu nome (e não acho que tenha qualquer obrigação de mo dar). Apenas deixei o comentário porque está ali em cima um tipo (não sei se do sexo masculino, se feminino), enfim, uma pessoa aos berros a dizer de mim tudo quanto se lhe oferece porque eu não sabia que clicando nas assinaturas descobríamos quem tinha colocado oomentário. No caso do Glória Fácil descobri, no seu e no da pessoa que está na praça em cenas não. Mas confesso que "cliquei" por mera curiosidade de brinquedo novo, não porque tivesse intenção ou desejo de apurar quem estaria do lado de lá. Foi só isto. Felicidades para os seus gafanhotos. Cumprimentos, vlx
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