RIO E A CULTURA: Mais interessante do que o pequeno episódio do Rivoli é a análise da opção de Rui Rio pelo corte dos subsídios. O que Rio quer dizer é isto: "eu não sou promotor cultural ". E tem toda a razão. Se concordarmos com Mathew Arnold - a cultura como luz e doçura, como a busca da perfeição - que raio tem a fazer por ela um autarca, já de si e por definição, provisório? A tese de Rio foi sempre a de que primeiro está o leite nas escolas e o saneamento, o que me parece sensato. Não se vê bem que famintos e porcalhões possam vir a constituir os futuros espectadores de Beckett ou Sófocles. Mais, o que Rio faz é aprofundar um elemento essencial à cultura: o conflito. Infelizmente truncou-o um pedaço, como veremos adiante. A democratização trouxe um inevitável abismo entre os agentes culturais e o público: do não ter nada ou ter cultura passou-se para ter uma data de coisas - livros idiotas, televisão boa e má, cinema - e ter , ou não, cultura. A velha ideia que obrigava o homem de bem a educar o povo já não faz qualquer sentido. Quando digo que Rio, apesar de conflitualizar o debate cultural, cometeu um erro, é porque se deixou enredar num visco assassino: cortar todos os subsídios impede-o de participar no conflito. Continuasse ele a escolher e a recortar e poderíamos finalmente saber quanto custa a cultura: não em dinheiro, mas em interesse público.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.