SERINGAS NAS CADEIAS ( A Proposta): O governo recuou na intenção de avançar com experiências de NEP ( Needle Exchange Programs) em quatro cadeias e vai fazê-lo apenas em duas. Já não é mau. Ao que parece, deixa cair as máquinas dispensadoras automáticas e pretende envolver os guardas prisionais nos projectos. Esta última intenção também é boa, numa altura em que alguns ministérios denotam tendências autoritárias. A linha de força deste projecto tem de ser a razão e a ciência ( a humanidade é acessória).
1) A razão assenta numa compreensão da realidade: as cadeias estão cheias de utilizadores de drogas injectáveis, alguns já infectados ( com HIV e várias formas de hepatite), que conseguem receber droga. Isto significa que as cadeias são armazéns de vírus perigosos, o que afecta todos os reclusos ( e não apenas os toxicodependentes), bem como os familiares e amigos que estão cá fora á espera dos que estão lá dentro. Ora, um problema epidemiológico combate-se com prevenção e tratamento. Os NEP e o rastreio são preventivos; os programas de metadona e as consultas de desabituação são instrumentos da área do tratamento que também terão de estar presentes nas cadeias.
2) A Ciência ajuda-nos a estabelecer um programa de prevenção na área da epidemiologia. Nesta altura, apenas a avaliação do que se passa e do que se passou nas cerca de 50 cadeias onde os NEP foram introduzidos nos pode ajudar. Os programas alemães, espanhóis e suiços, não registaram nenhum ataque a guardas com as novas seringas. Como observa, e bem, o US Surgeon General, a avaliação desses programas demonstra que os NEP diminuiram drasticamente a taxa de infecção por HIV ( e outras doenças, como as hepatites ) e que o consumo de droga não aumentou nas cadeias que experimentaram os NEP.
Não me parece que os serviços correccionais alemães e suiços, e o US Surgeon General, sejam perigosos relativistas, mas quem quiser continuar a agitar argumentos de fé é livre de o fazer. Aliás, estes projectos são muito fáceis de boicotar: basta "convencer " um recluso a picar um guarda com uma seringa.
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