RESPOSTA A TERESA: Sobre um recente post meu colocado aí abaixo (Falácia atrás de falácia), comentou Teresa que existiria um "furo", um problema, uma questão mal resolvida que retiraria velocidade à caravana do não (ao aborto), "furo" esse que consistiria na ausência de explicação acerca das razões de exclusão de ilicitude em caso de violação.
Não me parece que tenha razão e julgo antes que navega num equívoco. Hoje em dia, a "caravana do não", como lhe chama, não está a discutir essa situação nem essa situação está em discussão, neste momento e com este referendo. Não está em discussão para os que defendem o aborto livre nem para os que o não pretendem e, não estando o assunto a ser debatido, não vejo que mereça ou exija explicações nem razão para, como sustenta a Teresa, a alegada ausência de explicações retirar velocidade à "caravana do não".
De resto, não vejo sequer motivo para que devesse ser "a caravana do não" a dar qualquer explicação sobre as razões de exclusão da ilicitude nesses casos, mas sim quem fez e aprovou a norma a que se refere.
De todo o modo, tratar desse assunto (ou de outros eventualmente relacionados) num momento em que ele não está em causa só serve para desviar as atenções daquilo que neste momento interessa. Há realmente muita, muita, muita gente por aí que pretende desviar as atenções, criar manobras de diversão, nuvens de poeira sobre este tema - todos os dias vemos isso, nos jornais, nas televisões, nos blogs e nos comentários que são feitos. Mas não devemos deixar de nos concentrar no que está efectivamente em debate: o que interessa hoje é saber se se deve permitir o aborto livre, apenas porque se quer, até às dez semanas de gravidez, ou não. Não foi seguramente o seu caso, mas considero que nuvens de poeira revelam apenas falta de argumentos.
Notas soltas sobre o discurso quimérico de VLX, do Mar Salgado
Nota 1: Sobre a qualidade do que é falaz? ?Um grupo de médicos e outros profissionais da saúde apresentou-se à comunicação social... pretendiam contrariar a ideia de que o sim ao aborto fosse contra o código deontológico dos profissionais da saúde? Acabaram por só conseguir justificar a sua posição favorável ao aborto livre com recurso à clássica ideia de que isso acabaria com o aborto clandestino.?
Lembra-se da Lena d?Água ?demagogia, feita à maneira, é como um rato, numa ratoeira???
Nota 2: Sobre deontologia médica? ?A Deontologia Médica embora seja constituída por um conjunto de regras de natureza ética consolidadas em princípios que têm carácter permanente, deve compreender-se em constante evolução pela necessidade de aperfeiçoamento e de rigor no exercício da actividade profissional?? (Suplemento ao n.º 27, de Março de 2002, da Revista da Ordem dos Médicos)
Deixe-me informá-lo que o código já foi alterado noutras ocasiões. Lembro-me, por exemplo, da modificação do artigo 55º (transsexualidade e manipulação genética), cuja actual redacção foi introduzida pelo Plenário dos Conselhos Regionais da Ordem dos Médicos de 95.06.03.
As propostas de alteração não são só nacionais. Em 2004, com o objectivo de ajudar a satisfazer as necessidades dos doentes do século XXI, médicos europeus e norte-americanos propuseram um novo código de ética e deontologia profissional (o Juramento de Hipócrates tem cerca de 2.500 anos!). Num artigo publicado em conjunto nas revistas The Lancet e Annals of Internal Medicine, George Alberti, então presidente do Royal College of Physicians London, descreveu o código como um guia para a prática médica moderna e Christopher Davidson, na altura secretário-geral da European Federation of Internal Medicine, referiu-se ao novo código de ética como um marco para melhorar a relação entre o médico e o doente. "Estamos a preparar a sua implementação no continente europeu. Este conjunto de valores profissionais autorizam os médicos e os pacientes a enfrentar as situações do século XXI", referia o comunicado de imprensa.
Nota 3: Sobre a sua observação ?Bendito código deontológico!?? ?Artigo 57º (greve da fome) 1. Quando o preso ou detido recusar alimentar-se, o médico, tendo verificado que o mesmo está em condições de compreender as consequências da sua atitude e delas tomou conhecimento, deve abster-se de tomar a iniciativa ou de participar em actos de alimentação coerciva, ainda que perante perigo iminente da vida. 2. A verificação prevista no número anterior deve ser confirmada por outro médico estranho à instituição prisional.?
Quer fazer-me o favor de comentar? Antecipadamente grata
Ana Matos Pires
Ps1: Não vou tecer considerações sobre a ?forma? do seu post ?Falácia Atrás de Falácia, no que aos aspectos ?científicos? diz respeito?assumo-as como provocatórias!
Ps2: Ah! A propósito de abertura de mundos novos e de ?cliques?? aconselho http://www.milomanara.it
Cara Teresa, não sei se já se terá dado conta de que na actual "caravana do não", ou seja, no grupo de pessoas que hoje estão unidas contra a possibilidade de se poder abortar livremente até às dez semanas encontram-se desde pessoas que em momento algum considerariam a possibilidade de abortar até pessoas que acham natural e defensável que o aborto não seja punúvel em caso de violação. Ou seja, de entre o conjunto de pessoas que se opõem ao aborto livre, existem muitos perspectivas diferentes. Daí que eu entenda que os da actual "caravana do não" não têm a obrigação de dar essa resposta. Cumprimentos, vlx
Cara Ana Matos Pires, certamente não me percebeu, eu não disse que o código deontológico não pudesse ser alterado, certamente que pode. Disse que a pessoa em causa apresentou-se dizendo que iria explicar por que razão o sim ao aborto não era contra o código deontológico, e acabou por só defender a necessidade de alteração do dito código, o que é contraditório em si. Agradeço o repto para o comentário mas não percebo nada de greve de fome.
A desconversar!? Que desilusão! Sendo eu uma snob elitista - além de esquerdista e sulista qb - e o VLX tripulante do Mar Salgado, mesmo não o conhecendo esperava de si uma maior honestinadade intelectual. Os cognitivistas bem falam dos erros sistemáticos! Por mais que os cometa, não aprendo! Que estupidez a minha tomar a parte pelo todo... AMP
Ó AMP (isto é preciso uma paciência...), porque carga d'água me acusa de menor "honestidade intelectual" e de "desconversar"? Por eu não ser obrigado a comentar tudo quanto me atiram para o prato? Manda-me um artigo do seu código deontológico, pedindo-me para o comentar, eu não o faço e apenas por isso tenho menor honestidade intelectual?!?... Ora essa! Passe mas é a medir as acusações que faz.
Não VLX, não é por não "come(nta)r tudo o que lhe atiram para o prato", mal seria!!! Deitando mão a um quase plágio... eu sei que o VLX sabe o porquê das minhas "acusações". É que quero mesmo crer que sabe, ou então a coisa ainda é mais grave. Cumprimentos AMP
Ps:Essa posição de dama ofendida e enfastiada não lhe fica nada bem.
Segundo o DN de 28-11 "Médicos há muito que têm "papel de luta" pelo ?sim"
Ana Campos, directora do serviço materno-fetal da maternidade lisboeta, considera que a modificação da actual lei não só acabará com o aborto clandestino e a "atitude persecutória" para com as mulheres como também, "a longo prazo, permitirá tornar o aborto cada vez mais raro, precoce e seguro". Também Maria José Alves, chefe de serviço de ginecologia/obstetrícia na maternidade, argumenta que é necessário ir ao encontro das "conversas e das sensibilidades" que as doentes revelam nas consultas. O apelo ao "sim" no referendo, mesmo indo contra o código deontológico dos médicos - que considera "falta deontológica grave" a prática abortiva -, é a prova, segundo a médica, de que "existe um novo princípio ético, respeitado pelos médicos mais jovens: o respeito pela autonomia de cada um"...
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