"ELEVADA AUTO-ESTIMA": Dizem ao "Público" o técnicos do Instituto de Reinserção Social que é o que poderá ter motivado o ex-militar de Santa Comba a cometer os crimes. Não o conheço, não o entrevistei, por isso não contesto o diagnóstico dos colegas. Pego apenas no link conceptual: a rejeição desencadeia violência num indivíduo confiante ? Penso exactamente o contrário. O João dos Santos costumava dizer que os tipos equilibrados são como os aviões: se não podem fazer a escala do costume, não se despenham, têm sempre combustível de reserva. Uma rejeição amorosa suscita no indivíduo confiante uma impressão amarga, mas provisória; têm uma memória de bons episódios que lhes permite digerir a coisa. Têm estômago de avestruz. Em pessoas sistematicamente frustradas, um falhanço pode assumir proporções catastróficas. Se o tipo opta por não se matar nem se deprimir e parte para a violência, normalmente é para destruir o motivo da rejeição: se já não existe não me pode fazer mal. É um pensamento dissociativo, felizmente raro, e que denuncia normalmente uma pré-estrutura psicótica. Ou o riso da hiena. Os colegas podem ter querido dizer que "elevada auto-estima" significa uma personalidade narcísica, mas, nesse caso, a formulação está mal feita. Alguém que precisa deseperadamente de aprovação social não tem combustível nem para chegar ao ponto de escala, quanto mais ao destino. Não teria sobrevido tantos anos, aparentemente bem ajustado. O pavão não se vê ao espelho. O mais provável é o cabo de Santa Comba ter sofrido uma crise de meia-idade ao mesmo tempo que descobria a verdade dos man-eaters: o humano é frágil.
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