EM DEFESA DO FILHO DA MÃE: Com o desgaste à porta, tenho-me perguntado várias vezes por que razão andarei eu a perder tempo - que me é tão caro e raro - e energia - que me vai faltando - com isto do aborto. Egoisticamente falando, a questão não me atinge minimamente. Eu não abortei os meus filhos já nascidos nem irei nunca abortar os filhos que ainda me vierem. Que me interessa a mim que os outros considerem a coisa mais natural do mundo abortar os seus próprios filhos? Que vejam isso como uma coisa perfeitamente legítima? Um direito?
Os socialistas consideram o aborto livre até às dez semanas um sinal de modernidade e civilização? Força!, para a frente é que é caminho. Os bloquistas consideram que é um direito da mulher decidir pôr termo à vida intra-uterina que a natureza lhe confia? Siga a marinha! Os comunistas ainda andam agarrados à ideia do aborto como uma conquista de classe? Andor com essa porcaria! Os pais não querem saber das suas responsabilidades perante as vidas por si geradas, atiram para cima das mulheres toda a responsabilidade de decisão sobre a vida dos seus filhos, assobiando para o lado? Problema deles. As mães pretendem ser juízes em causa própria dirimindo elas próprias a sua relação com o filho não nascido? Que se lixe! A sociedade acha tudo isto normal e natural? Paciência para ela! - Que me interessa a mim se isso não me afecta? Mais valia gastar o tempo com os meus filhos a estar aqui a escrever, ou em debates, ou em campanhas.
Acontece que quando chego perto deles e os vejo felizes, sossegados e protegidos, lembro-me de que nem os socialistas, nem os bloquistas, nem os comunistas, nem certos pais e mães, nem sequer a sociedade pretendem proteger a vida dos outros filhos não nascidos. Essas vidas correm assim o sério risco de virem a ficar completamente desprotegidas durante as suas primeiras dez semanas (dois meses e meio!...), totalmente entregues às suas mães que, por desgraça ou irresponsabilidade, não interessa, ficariam livres de decidir pôr fim a elas, reflectidamente ou por impulso. E nessa altura volto para aqui, para o teclado, ou para os debates e campanhas socorrer quem ainda se não pode defender. Ironicamente, abandono os meus para vir defender os filhos dos outros das suas próprias mães.
O que comecou por ser uma posicao racional do VLX foi-se transformando numa emocao incontida ate terminar numa insensatez.Insultuosa para a sua propria inteligencia. Reveladora de alguem que julga possuir a verdade e a impoe. Os D. Quixotes deste mundo ainda a procuravam. Os ditadores faziam acreditar que a tinham. Os VXLs serao mais uteis aos primeiros ou aos segundos?
Eu não tenho filhos, nunca tive e acho que nunca terei. É já tarde demais. Teria sido uma grande prova de egoísmo entrar numa "produção independente", só para me realizar como mulher e mãe. Também eu me tenho interrogado porque é que, ainda por cima vivendo tão longe, não consigo desligar-me desta questão. Talvez seja porque a vejo como o espelho da demagogia, do oportunismo e do egoísmo que caracterizam as sociedades dos nossos dias. E porque não consigo, de todo, entender a abismal diferença que tantos conseguem ver entre o 69o. e o 71o. dia. É já um ser humano, único! Não autónomo, OK! Mas qual de nós o é verdadeiramente? Quem consegue viver sem o apoio dos que os rodeiam? Só os ermitas e mesmo esses, a não ser que vivam nús, precisam de quem lhes tenha, pelo menos, facultado o material para fazer as suas vestes...
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