O Banco Mundial publicou em Novembro passado um relatório - Afghanistan's Drug Industry: Structures, Functioning, Dynamics and Implications for Counter-Narcotics Policy - esclarecedor sobre a situação afegã, no qual descreve como um falhanço absoluto a política de erradicação forçada do cultivo da papoila dormideira. Em 2006, dados do UNODC, o cultivo cresceu 59% e a produção 49%. O Banco Mundial alerta para o facto da economia do ópio constituir 1/3 do total da actividade económica do Afeganistão, pese o cultivo da papoila ocupar apenas 4% da área cultivável. Fontes militares britânicas revelaram ao Independent on Sunday ( 21/01/07) que o cultivo da papoila na área do Helmand, onde 4000 soldados ingleses estão estacionados ( é o termo exacto...), cresceu 160% ( !) relativamente ao ano passado. Debaixo das suas barbas, literalmente. A inssureição ( ou ressureição?) taliban apresenta duas faces : uma institucional, ligada às Al Qaedas e a grupos paquistaneses, e outra que tem sido designada como grassroots. Estes últimos são bandos directamente recrutados nas famílias que ficam sem as colheitas de ópio e que acabam por engrossar a guerrilha convencional ( uma invenção moderna). Não admira: os taliban estão a pagar 12 U$ /dia contra os 2 U$/dia que oferece o exército governamental. O método EUA-Karzai-UNODC tem sido de uma estupidez notável: destruindo as colheitas de uma dada zona, cria brigadas de grassroots que reforçam as milícias taliban; de seguida a zona é militarmente perdida, instalando-se os taliban que, por sua vez, reintroduzem o cultivo da papoila à escala agro-industrial. No próximo número veremos como tudo isto era previsível : bastaria ter lido a história recente do ópio na região. Veremos também como os ingleses estão finalmente a compreender alguma coisa e a marimbar-se para os burocratas do UNODC.
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