A ONU estimava em 1998 a existência de 3 milhões de heroinómanos no Irão e de 2 milhões no Paquistão. Entre 1983 e 2003 morreram, em confrontos com traficantes, ao longo da fronteira afegã, 2700 polícias iranianos. A recordação destes números serve dois propósitos:
1) O ópio afegão é um problema na Europa e nos Eua como o é na zonas adjacentes à área de produção.
2) O Irão ( e não só ) paga um preço que nenhum país ocidental seria capaz de suportar em matéria de luta contra o narco-tráfico.
Posto isto, e no seguimento do primeiro post da série, comecemos a explicar por que motivo bastaria conhecer um pedacito da história recente do ópio, no designado Crescente Dourado, para abandonar a ideia pateta da política de erradicação forçada. Os taliban foram os primeiros a optar por esse método e, ao contrário do que muitas vezes é difundido, não o fizeram pela primeira vez com o célebre decreto de 27 de Julho de 2000. Dois anos antes, o Mullah Omar, que vinha imitando Khun Sa ( da Birmânia dos anos 70) na pretensão de vender as colheitas aos EUA, preparou a operação de 1999 que destruiu 200 cozinhas, 34 laboratórios e umas centenas de hectares na província de Nangrahar. O único resultado palpável foi o de deslocar a produção para Laghman, Logar e para o sudoeste, no Helmand; nenhum traficante foi preso, todos os warlords que taxavam o ópio com o usher ( 10% da colheita) continuaram a trabalhar. No norte, o ópio de Badakhshan fez as delícias da Aliança do Norte quando o Mullah Omar emitiu o célebre decreto de 2000. Depois, com a chegada dos EUA, Hazarat Ali, o patrão de Jalalabad, passou a deter o exclusivo do narco-tráfico ao longo da fronteira paquistanesa. Ainda pior, se no ano agrícola afectado ( 2001) a produção caiu de 4.042 toneladas para 81, o problema só aumentou. Como dizia Abdul Rashid, o chefe dos serviços anti-droga de Kandahar em 1997, não é possível banir o ópio sem tramar o povo que trabalha a terra. E enquanto os taliban conseguiram, durante pouco tempo e à custa de muita violência, proibir o cultivo, o comércio não parou: o ópio, meus amigos, é um produto não-perecível e existe um stock imenso pronto a escoar ( sensivelmente dois anos da produção média da zona nos últimos dez anos). Entretanto, o caos e a raiva reinavam nas zonas onde os agricultores faliam numa dimensão que um europeu já não consegue imaginar ( sem subsídios nem segurança social ) . Por saber tudo isto, o regime tinha acabado de levantar a proibição quando os americanos lhes entraram porta adentro. Existem muitas teorias acerca da facilidade com que os taliban cairam, e uma delas aponta o decreto de Julho de 2000 como uma das principais causas.
Nos próximo números: mais umas tintas sobre o desenho e a identificação das principais fontes utilizadas ( se houver espaço).
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