O DIÁRIO DO LEOPARDO ( XVII): A minha colega Micha ( passageira residente nesta nau) envia-me, via The Guardian, a lucipotente história de Susan Smith ( nome falso), que sofre de BIID: Body Identity Integrity Disorder. A Susan sempre entendeu que só se sentiria completa se lhe amputassem as duas pernas. Depois de muitas peripécias - envolvendo 40 kg de cubos de gelo - lá conseguiu ficar sem uma e ficou radiante. Teria menos trabalho se vivesse na Jersey da família Soprano, e ainda menos se habitasse o vale do Lwanga ou as margens do Save infestado de crocodilos. O José Pardal conta a história de um madala ( velho) que um dia se abeirou da fogueira onde estava o caçador e os seus pisteiros. O madala chegou, sentou-se, e só depois de duas horas de lengalenga é que se descobriu o estado em que estava o braço do homem. Tinha sido mordido por uma cobra ( não uma mamba, porque essas injectam um neuroveneno que mata rápido) dois dias antes e o braço estava pútrido. O José Pardal tratou do homem, incansavelmente, durante três dias e três noites. O madala curou-se e desapareceu sem dizer uma palavra, mas uma semana depois regressou e entregou ao caçador uma galinha e um aperto de mão mudo. No mato, entre pretos e brancos, isto era o zénite da emotividade. A trabalheira - e o sofrimento - que a Susan teve para perder uma perna é igual à que noutras latitudes se tem para conservar outras partes do corpo. Tudo depende da utilidade que lhes damos.
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