Enquanto no sudeste do Afeganistão se prepara a definição do controlo do eixo Sangin-Kandahar-Spin Baldak, convém observar o que acontece nas zonas adjacentes. Se 90% do ópio mundial é produzido no Afeganistão, a forma como ele sai do país é tão importante como o registo de produção e de transformação básica. O Tadjiquistão, o Casaquistão e o Quirguistão são os principais corredores do narcotráfico e também nesses territórios o ópio assume um papel de motor da economia. Hoje, uma pequena nota sobre o primeiro dos territórios referidos: O Tadjiquistão faz cerca de 1200km de fronteira com o norte do Afeganistão e o rio Panj domina essa linha. Na estrada para Moscowsky e Shurobad, e um pouco mais acima, na passagem do Khorog, as apreensões de pasta de ópio constituiram 70% do total de 2004. Na ponte de Khorog a droga viaja em automóveis e camiões, e os cães utilizados sofrem com a altitude e com as condições dos canis, o que diminui a sua eficiência. A droga continua tranquilamente a sua viagem na auto-estrada do Pamir até Murgab, capital do enclave do Gorno-Badaquistão. O Tadjiquistão fornece as condições ideais para um entreposto. A guerra civil ( 1992-1997) criou centenas de bandos armados que controlam o território montanhoso fora do alcance do governo de Dushanbe. O conflito permanente entre as estruturas civis e as militares, o dinheiro fácil do narcotráfico, a descentralização quase absoluta do controlo policial e admnistrativo tornam o país ingorvenável. O caso do general Gaffor Mirzoyev ilustra bem o problema: ex-comandante da Guarda Presidencial, envolveu-se alegremente no tráfico de armas e de ópio até ser nomeado chefe da Agência Anti-Narcóticos. É ironicamente apelidado de "verdadeiro drug-czar" e enfrenta de novo diversas acusações judiciais. A ausência do Estado em grande parte do território, a miséria causada pela guerra civil e a existência de cerca de um milhão de emigrantes ocasionais na Rússia e no Cazaquistão, criaram as condições perfeitas para o escoamento do ópio afegão. A quantidade de interesses implicados e a diversidade dos equlíbrios geopolíticos envolvidos tornam ainda mais risível a ideia de que o problema no Afeganistão se resolve com a destruição de uns quantos hectares de papoila.
Nota: em atraso, aos poucos, e entre outras fontes,
* Erika Marat, "Impact of Drug Trade and Organized Crime on State Functioning in Kyrgystan and Tajikistan ", China and Eurasia Forum Quarterly, vol.4, No1 (2006) * UNODC, Regional Office for Central Asia, Tajik-Afghan Border Assessment Mission August 2004 e Strategic Framework 2004-2007 Erik Nora, W. Byrd, " Afghanistan's Drug Industry: Structure, Functioning, Dyanmics and Implications for Counter-Narcotic Policy ", WB, Nov 2006.
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