Enquanto a apreensão, esta semana, de 500 kg de cocaína em Cabo Verde confirma o que temos vindo a escrever sobre o novo narco-eixo atlântico, continuemos na Ásia Central, e em eixos mais antigos. Hoje, como combinado, o Quirguistão. Bento XVI disse no seu discurso de 14 de Dezembro último - por ocasião da apresentação das cartas credenciais de Maratbek Bakiev, o novo embaixador junto daSanta Sé - que a extraordinária beleza natural do Quirguistão é uma benção para o seu país. Talvez, mas o território é um deserto montanhoso que viveu nos tempos da antiga URSS da produção de algodão, beterraba e ovelhas. Akayev, deposto pela suposta Revolução das Tulipas de Março de 2005, manteve durante muito tempo uma mão centralista ( com o apoio moral de Moscovo) sobre um país em desagregação. As mafias locais entretiveram-se a enriquecer com o dinheiro do narcotráfico, sobretudo da pasta de ópio ou da heroína semi-processada proveniente do Tadjiquistão. Nas zonas rurais e pobres ( quase todo o país) , os narcotraficantes substituem o estado e , numa prática já conhecida, pretendem comandá-lo. Jenech Nurgaliev, director da Agência Antidroga do Quirguistão, confirmou na altura da revolução que o assalto à sede do governo de Bishkek foi feito por milícias oriundas de Osh. Esta cidade-enclave é uma das capitais centro-asiáticas da heroína ( suplantando Khorog e Khodjent, a antiga Leninabad) . Osh recebe a droga de Murgab - via auto-estrada do Pamir - e reenvia-a para Bishek, capital quirguistanesa; pelo meio, diversos grupos de retalhistas negoceiam parte da droga para a China, para o Uzbequistão e para o Cazaquistão. Números certos não há, pelo menos nenhuns que me mereçam confiança. Por alto, e grosseiramente, calculo que cerca de 40% do ópio afegão passa pelo eixo Osh- Bihskek. Depois do golpe de 2005, Erkinbayev e Akmatbayev, deputados alegadamente ligados ao narcotráfico, foram assassinados numa demonstração clara de que a luta pelo controlo da narco-ecomomia estava lançada. O recente e espectacular aumento da produção afegã permite calcular a dureza da tarefa no Quirguistão.
Fontes / bibliografia:
* Jacob Towsend, The Logistics of Opiate Trafficking in Tajiquistan, Kyrgystan and Kazakhstan , China and Eurasia Quartely, vol4Nº1, 2006. * Komsomolskaia Pravda, 31/03/05. * Central Asia-Caucasus A.F.Report, Tajikistan-Kyrguistan Drug Route, 30/08/00.
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