Quando fez sessenta anos, Primo Levi escreveu uma pequena nota na imprensa ( Stampa Sera, 15/11/82) sobre a idade-fronteira. Parecia um texto comum ( "ainda tenho isto", "ainda conservo aquilo ") até que Levi termina: Estou consciente da tonalidade grave da palavra que acabo de escrever duas vezes: " ainda ". Delimitar o momento presente, toda a gente sabe, mandava Marco Aurélio. Daí querer-se o futuro como forma de desprendimento de toda e qualquer importância do desejo de um acontecimento específico. O que vem é sempre bom porque vem hoje, e hoje é tudo o que existe ( a boulêsis de Cícero como rectificação do desejo) Uma doença mortal não parece ser uma coisa que se deseje, o que deixa o estoicismo imperial em dificuldades. Nem tanto. Se um homem estiver a pensar no seu cancro, está vivo. E isso é , de certeza, tudo o que conta nesse momento. Ou não é?
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