Uma psicanalista inglesa, Frances Tustin, publicou nos anos 80 um livro interessante: Autistic Barriers in Neurotic Patients. Descontando o habitual exagero psicanalítico ( que até era pouco), o conceito de "ritmo de segurança " avançado por Tustin é muito bem apanhado. Tustin utiliza-o na psicopatologia, eu transporto-o, desde há muitos anos, para o mundo seco das grandes perdas. Quando nos morre alguém, para lá de tudo o mais, passa a existir um espaço mental e físico desalinhado. Quem perdemos fazia parte de um ritmo antigo, de uma repetição cadenciada de experiências que se nos entranhou na pele. Esta perturbação é mais subtil do que a tristeza imensa, mas não menos letal. Aparece sob a forma de uma cadeira vazia à mesa de jantar, coisa com a qual já contávamos mas que mesmo assim nos surpreende; como uma campainha habitualmente pontual mas agora inexplicavelmente muda; ou, ainda, vestida de uma voz cujo silêncio, naquele exacto momento, nos arranca as orelhas. Esta perturbação - um ritmo interrompido - é física e mental, e não tem cura. A memória, essa advogada de ambulâncias, encarregou-se de soltar para sempre a tecla do xilofone. O ritmo mudou.
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