Júlia Ferreira foi uma velha peixeira minha conhecida que, depois da venda, chegava a casa e ainda cansada pela correria da manhã olhava para o saco do dinheiro e dizia: "Pois é, se eu não tivesse que pagar o peixe isto era tudo lucro". Lembrei-me desta estória a propósito da notícia, muito propalada esta semana, de um estudo sobre a localização do novo aeroporto que, parece, ninguém sabe quem pagou. A Júlia Ferreira tinha gostado de saber disto! De facto, os "falcões" da indústria, com o desembaraço com que modernizam as suas empresas, com a consciência com que pagam salários decentes e com a competência que sempre revelam em associar a sua actividade empresarial de risco aos incontornáveis incómodos da manjedoura do Estado, decidiram fazer um estudo sobre o Novo Aeroporto de Lisboa. O Estado português, por seu lado, andou anos e anos a estudar uma localização, socorrendo-se, para isso, do auxílio e da competência dos melhores técnicos e das melhores instituições; durante este período, ainda, grupos de cidadãos, corporações profissionais, ambientalistas e profissionais de aviação e aeronáutica pronunciaram-se sobre as suas opções e, por fim, o governo, como lhe competia, decidiu. Esta decisão foi, sucessivamente, ratificada por três governos distintos e de diferentes cores políticas. Agora, aparece a nata qualificada do empresariado a dizer que, em menos de três meses, elaborou um estudo do qual resultou uma solução milagrosa, barata, sem impactos negativos, sem ruído e com certeza com muito petróleo, ao menos assim, ainda podia ser que um dia se tornassem competitivos internacionalmente. Balelas. O que estes senhores se limitaram a fazer foi a anunciar a total falência do Estado. Ainda estou para ver onde é que eles depois iam buscar os subsídios. E o companheiro Vasco, sabe ?
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