O "Público" *, sempre tão preocupado e minucioso com "a violência da extrema-direita", fala em Bloco Negro para aqui, Bloco Negro para ali, e não desata. Naturalmente. Os meninos das diatribes de ontem, em Rostock, são uma organização muito conhecida na Alemanha - a bem dizer uma rede de organizações - que não tem perdido uma oportunidade de "lutar" contra o fascismo, o capitalismo e afins, isto desde há pelo menos 15 anos. São abertamente de esquerda - anarquistas, anti-fascistas, libertários, o que quiserem - e entre outros artigos interessantes sugiro a leitura de Antifascist Superhero, de Joel Morton. Só falta a habitual luminária vir dizer, como habitualmente, que o que se passou ontem foi causado por infiltrados de extrema-direita. Esta negação - por desonestidade intelectual ou por subserviência - da violência das esquerdas é tão mais patética quando se conhece a história do terrorismo europeu dos últimos 40 anos, para não falar das matanças que todos os projecto utópicos tiveram que fazer para atingir (?) os seus objectivos. É justo dizer que existem esquerdas que há muito despediram esta escatologia macabra, que lutam por coisas com as quais facilmente me identifico. Mas nem é isso que incomoda. O que deixa um amargo na boca é que esta negação da violência revela a parte do pensamento de esquerda que abomino. Desde logo, a superioridade arrogantemente salvífica: somos perfeitos, o Inferno são os outros ( os fascistas, os Pinochet, os Franco etc) . Depois, e muito pior, é uma esquerda que sabe o que é melhor para mim se eu fosse diferente daquilo que sou; é uma esquerda que, embora vivendo parasitariamente entre os ramos da liberdade, tem sempre um machado na mão.
* Agora ( edição de 4 de Junho) são "espontaneístas". Vale tudo o que acabe em "istas" menos "esquerdistas". É o que eu digo, esta gente é ungida.
Não li o Público. Do que aconteceu em Rostock só sei o que li e ouvi nos noticiários alemães, que dão a versão dos "infiltrados". Mas não falaram desse Black Bloc. Curiosamente os da extrema-direita, impedidos de fazer uma manifestação - julgo que em Berlim - ameaçaram que iriam juntar-se à manifestação contra o G8. Sem pretender defender, digamos, demasiado, os de esquerda, faço notar que estas manifestações permitem todo o tipo de infiltração e surtos de violência. Por outro lado, põe-se a questão: o que é a esquerda?
Na net existem dezenas de referências alemães - e em alemão - ao Black Bloc, por ocasião dos acontecimentos de Rostock. Defenda o que quiser - mi casa es su casa -, cara Helena, o meu post referia isso mesmo: a violência do machado não tem cor.
Obrigada pela informação e pela hospitalidade! Dei uma vista de olhos pela net, e parece que as páginas alemãs andaram a ler a cartilha do Público: o black bloc é tratado como um fenómeno exterior à lógica desta manifestação. Penso (na minha sensibilidade de ungida ofendida) que está a misturar alhos com bugalhos - a enorme diferença entre um Benno Ohnesorg e um Andreas Baader é marcada pelas fronteiras do território democrático. A extrema direita e a extrema esquerda encontram-se fora desse território - e por isso não faz sentido confundir uns com os outros.
Por outras palavras: a violência do machado não tem qualquer das cores da Democracia - pelo que é deslocado falar de "uma esquerda que, embora vivendo parasitariamente entre os ramos da liberdade, tem sempre um machado na mão". Isso não é esquerda, é terrorismo. Do mesmo modo que os movimentos de extrema-direita não se confundem com a direita democrática.
É tão simples: basta mencionar "extrema-esquerda", como você fez.A outros, a associação entre a dita cuja e, por vezes, a violência queima-lhes a boca.
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