Quando entramos num cemitério sabemos que trespassamos. Ninguém se sente em casa, mas apesar disso vamos sem convite. A calma e o silêncio são lugares comuns e mentirosos. Calma é coisa que por definição não existe num cemitério: vejam o andar torcido de uma viúva recente ou o olhar tenso de uma mãe sossegadamente desesperada. E aprendam. O silêncio é outra mentira piedosa. As vozes, as verdadeiras, as dos esquizofrénicos, falam que se desunham quando pisamos o chão de pedra. Se há silêncio é porque o ruído dentro das nossas pobres cabeças é tão grande que não conseguimos ouvir mais nada.
sempre me fez impressão o facto dos teus posts sobre a morte nunca serem comentados, eu próprio me angustiava com isso, um pouco sem saber lidar com a situação, pois se por um lado me apetecia comentar, por outro achava que era tema onde não devia tocar. Há nos teus textos sobre a morte um elemento determinante que é o facto, raro, das palavras serem quase tão intensas como o próprio sofrimento (Se há silêncio é porque o ruído dentro das nossas pobres cabeças é tão grande que não conseguimos ouvir mais nada..). Por isso, a pouco e pouco, fui-me apercebendo que a morte calada incomoda mais do que a morte refletida. Descobrir, no fundo, o modo próprio de lidar com a morte e com os (nossos) mortos. Do mal o menos...
Hummm...A razão do silêncio dos comentadores... - O pudor dos sentimentos alheios, que adivinhamos não serem passíveis de pose nem de exibição gratuita? Ou então aquela ancestral convenção judaico cristã que nos leva respeitosamente a calar estes assuntos, pela sua dimensão “totalitária”?
Mas sobre o tema, e já agora, não resisto a deixar aqui um link imperdível (mesmo, mesmo). De um jovem arquitecto “boulverseur”. Em http://www.youtube.com/watch?v=Xwf8_5bWAwQ&NR=1
Vejam como ele concebe “ a coisa” como um objecto transitivo para o firmamento, o infinito onde algures está (?!) o desconhecido local para onde remetemos os nossos afectos terrenos desaparecidos. Moderno. Esmagador. Suitable. Genial na simplicidade inteligente.
Adoptei a ideia. Vou borrifar nos gavetões da "morada de férias" do clã ee mandar fazer uma coisa assim;)
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