Evolui, infecciosamente, a rábula do "sou de esquerda na política e conservador nos costumes". O declarante padrão é normalmente alguém que suspirou pelo Che em novo, agora suspira pelo Mercedes novo que nunca mais chega e amanhã suspirará de alívio se não encontrar preservativos na malinha da filha de 16 anos. Como sou do contra, costumo declarar na alfândega que "sou conservador na política e de esquerda nos costumes". Seja lá o que isso queira dizer.
Engraçado... eu achava que a moda era mais ser-se liberal na economia e conservador nos costumes. Casos como o do texto, não conheço nenhum. Mas deve ser gente interessante (de um ponto de vista antropológico), quem consegue misturar o Che com Mercedes e filhas de 16 anos virgens e, sobre o lote, suspirar...
O Mercedes é uma ambição de esquerda. Eu, se mandasse, proibiria que se construisse qualquer outra marca de automóveis. As economias de escala permitiriam reduzir drasticamente os custos de produção e, por decorrência, colocar os Mercedes ao alcance de toda a gente. Indigna-me que, sobre todas as outras indignidades, os pobres tenham ainda por cima que andar de Renault, Ford ou Fiat.
Eu fico pasmo! Fico pasmo ao ler neste século comentários que têm tudo o que do comunismo (estalinista ou outro) imaginava enterrado. Os tiques de autoritarismo de quem julga que tudo muda com decretos inibidores e proibições à medida. O disparatado ideal da uniformização, a ideia disparatada de que os produtos sem concorrência poderiam manter o nível. Enfim, nem os ensinamentos da História (como se os da razão não fossem já suficientes) conseguem entrar em certas cabecinhas...
Subscrevo em absoluto o post. É tão possível uma coisa como outra. Já o Eduardo PC (com quem não concordo muitas vezes) dizia há longos anos atrás... No nosso animus político juntam-se sempre duas forças: a razão e a libido (no sentido largo da energia dos instintos, das coisas que nos aprazem). E cada um as combina de forma diferente.
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