Na anterior série escrevi sobre a corrupção que o narcotráfico causa em algumas ex-Repúblicas Soviéticas, agora começo pelo caso da nossa Polícia Judiciária. Obviamente não farei referência a aspectos concretos: anda por lá muito ajuste de contas. É inevitável, é dos livros, que quando uma zona produz muita droga, ou intercepta muita droga, a corrupção aumenta nas forças policiais. Já em tempos aqui trouxe a odisseia do comissário Lin Tse-hsu e da sua comissão de serviço em Cantão ( 1839-1841). Foi, provavelmente, o primeiro quadro completo - proibição/corrupção - da história das drogas. Também já aqui avisei, e por diversas vezes, que o aumento espectacular das quantidades apreendidas não se deve a uma eficácia sobrenatural do DCITE. Tem uma causa bem mais prosaica: o espectacular aumento da quantidade de droga em trânsito no território nacional. Nos EUA e no México, há muito habituados à corrupção que o tráfico causa na forças policiais, o desenvolvimento dos novos esquemas dos carteis mexicanos tem causado problemas novos. Também já aqui em tempos referi a fragmentação das velhas famílias, responsável por uma maior porosidade da vigilância e a uma maior quantidade dos canais de tráfico. Resultado: maior descentralização do combate ao narcotráfico e maior possibilidade de corrupção policial. Em Villahermoza, Tabasco, uma esquadra inteira foi tomada de assalto por forças federais em Março deste ano. Eram todos podres. Na Colômbia, o problema agrava-se de forma original. Em Setembro de 2005, três militares americanos, incluindo o sargento Iriazarry-Melendez, foram presos e acusados de tráfico. Este homem, Melendez, pertencia ao 204 th Military Intelligence Batallion e era substance-abuse coordinator. A apropriação de pequenas quantidades de droga ( ou de dinheiro da droga) por parte dos operacionais envolvidos é uma consequência natural e inevitável da actividade. Esta tendência agrava-se quanto maior for a quantidade de droga em circulação. É simples. No entanto, convém separar este problema de outros problemas: sejam os internos, sejam os que resultam do combate entre a cultura policial e as agendas governamentais. Também é simples.
Mais do que mandar bocas, ou abrir desnecessáriamente a boca, opto por absorver o que os outros pensam e se dão ao trabalho de escrever... Sou um gajo, em suma, calado. No entanto, sei como para algumas pessoas que se dão ao trabalho de manter um blogue, o comentário, o feed back do leitor é importante (não sei se será o seu caso). Por isso, mato dois coelhos de uma cajadada: espero dar-lhe algum alento ao confessar-me seu assíduo leitor, sobretudo da série do Narcotráfico e aproveito para lhe dizer que, pelo menos para mim, esta série vale quase pelo resto do blogue todo (é claro que há outras coisas com piada ocasional, se descontarmos o irritante "visceral portismo" de um blogue que nos avisa pela sua própria cor com o que contamos, por isso nem sei porque me queixo). Bem, adiante... (para gajo que fala pouco, já me estou a esticar. Continue a escrever sobre o narcotráfico que é o melhor que por aqui aparece. Um forte abraço
Caro Nakata, Agradeço, sinceramente, o seu interesse porque escrevo para ser lido ( outros têm outras agendas). Mas também entendo que outras coisas, muito boas, são escritas pelos meus amigos de blogue. Até as portistas;).
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.