A China do início do século XX produzia quantidades brutais de ópio. Em 1905, fabricou entre 27 a 36 toneladas, cerca de oito vezes mais do que o que importou da Índia ( britânica). Em 1907, em Fuzhou, existiam cerca de 3000 dens e em Xangai 1600. Cantão albergava 1700 fumeries, algumas eram propriedade de franceses que ostentavam (belos) nomes como Pavillon des Rêveries Nuageuses ou Sincérité Méridionale. É impossível calcular exactamente o número de opiómanos, mas as fontes que considero mais credíveis calculam entre 15 a 20 milhões de viciados. O cenário chinês é muito útil para trabalharmos os actuais, sobretudo o afegão. A China dessa altura produzia e consumia em quantidades astronómicas, o Afeganistão é actualmente o primeiro ( e quase único) produtor mundial, mas o consumo interno é irrelevante. A produção chinesa foi estimulada pela necessidade do consumo, a moderna produção afegã foi montada para gerar receitas que suportassem a guerra ( primeiro contra os soviéticos, depois contra os americanos). Não devemos esquecer que a produção chinesa posterior a 1842 teve (também) como objectivo equilibrar a balança comercial com a Inglaterra - que inundava o país com o ópio indiano. A situação chinesa dessa altura evoluiu de forma interessante. Depois da vitória dos liberais de Campbell-Bannerman ( 1906), os ingleses prometeram reduzir em 10% ao ano as exportações de ópio ( diminuindo drásticamente a produção indiana) se os chineses se comprometessem em reduzir a produção nacional nas mesmas proporções. Assim se fez o Ten Year Agreement que entrou em vigor a 1 de Janeiro de 1908, sob inspecção britânica, e que foi um sucesso surpreendente. Este acordo preparou o terreno para a conferência de Xangai( 1909) e nos seis anos seguintes o consumo de ópio na China desceu para metade. A história não fica por aqui, mas um axioma podemos recordar: só se consegue diminuir a produção de uma droga se se conseguir diminuir a sua procura e se essa estratégia for concertada. Para diminuir a procura, como fizeram os chineses a partir de 1906, têm de ser aplicadas medidas violentas: castigos corporais, prisão, desprezo pelos direitos individuais; para diminuir a produção, como fizeram os ingleses na Índia, os governos têm de deter o monopólio produtivo e comercial. Tudo coisas impossíveis nos dias de hoje.
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