O debate em torno da escola é dos mais reveladores sobre a representação social que o país elabora acerca da oposição inovação/tradição. Nos anos oitenta, a escola inovou graças a um punhado de pedagogos com rédea livre no ministério. O país desinteressou-se porque na altura estava a recuperar da cultura das couves e da boina baixa. Os inovadores eram uma espécie particular de adversários da modernização. Enquadrados nos sistemas utópicos, recusavam o que estava em nome de uma construção ideal. Tudo o que vinha de trás era tido como pernicioso, como impeditivo da grande escola socialista igualitária.
Hoje, os adversários da modernização são os saudosistas. Substituiram a utopia por um endeusamento da tradição, movimento clássico dos reaccionários: tudo o que não pertence a um passado que eles têm como ideal cheira-lhes a perigo e a disparate. Uma das razões que explica este desequilíbrio prende-se com a ausência, em Portugal, de verdadeiras mudanças técnicas e industriais. Estas mudanças arrastam sempre modificações sociais que acabam por empurrar para as franjas do pensamento os dois tipos de adversários da modernização a que aludi. Como as poucas mudanças técnicas e industriais que tivemos foram caridosamente impostas - os dinheiros europeus -, a mobilização social é inexistente. Daí que alternem, consoante as circunstâncias, os discursos de recusa do real, da recusa em trabalhar a partir da sociedade que existe. Seja porque continuam a sonhar com o que deveria existir, seja porque continuam a preferir, sempre, aquilo que jánão existe.
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