A dívida e a culpa são irmãs, diz Gunter Grass. Outros dizem que hoje rejeitamos a culpa. Não me parece. Na Antiguidade europeia ( os chineses são outro circo) as escolas e os espelhos referiam já a nossa relação com a culpa ( do éloignement epicurista à dureza da Antígona, ela esteve sempre presente). A religião forneceu à culpa um rosto reconhecível e aceitável: aruumou-a num lugar concreto, o da passagem para a salvação. Mas ela não desapareceu com a famosa e confusa "cartilha hedonista". Muitos dos que hoje vivem com antidepressivos, drogas ilegais ou álcool ( quase todos), alimentam a besta. Se o modo de vida despreocupado e egoísta ilude os que pensam que a culpa partiu para Cápua, é apenas um problema de percepção. Hoje juramos não ter pachorra para a culpa e pagamos bem aos psis para nos aliviar? Então ela está aí para as curvas. A ligação à dívida ajuda a perceber. Gerações inteiras que viram os pais fazer o que quiseram acham. e bem, que devem pouco. Por sua vez, quando essas gerações fazem o que lhes dá na gana, a culpa não desaparece: fica é sozinha. E é naturalmente insuportável.
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