ESTÓRIAS MAL CONTADAS: A comunicação social, e em particular as televisões, vive uma vez mais com inexcedível exaltação a tragédia humana. E algumas das televisões procuram à força um culpado para denegrir rapidamente na praça pública. Ontem à noite e hoje de manhã vi, em certos canais, a tentação de culpar a condutora de um automóvel ligeiro por um acidente terrível. Com perguntas que imagino, as repórteres no local conseguiram que pessoas que seguiam na camioneta acidentada, ainda feridas, combalidas e certamente confusas, declarassem que um automóvel desgovernado tivesse embatido por uma ou mais vezes, por trás, na camioneta, provocando o acidente. As respostas de ontem do Presidente da Câmara de Castelo Branco também não melhoraram a percepção do acidente (limitou-se a dizer que tinha falado com o condutor da camioneta e que ele lhe tinha dito que tinha havido um outro automóvel interveniente no acidente, o que é muito pouco ou quase nada).
O tipo de perguntas que atrás supus, feito com respostas a reboque, foi efectivamente feito por uma repórter da SIC a um oficial da GNR que, contidamente, respondeu que só podia afirmar-se que teria havido uma colisão (não o embate por trás causador do acidente pretendido pela repórter nem a possibilidade de se apontar desde já um responsável pela desgraça). Felicito o agente da GNR pela sobriedade da resposta à traiçoeira pergunta ou, precisando, pergunta-resposta.
É que, com efeito, causava-me algum espanto que um Ford Fiesta, uma casquinha de noz, conduzido por uma professora, pudesse embater por uma ou mais vezes na traseira de uma camioneta de passageiros, cheia, pesada, muito maior, causando um acidente desta dimensão. Mais depressa e mais natural seria o Ford Fiesta ficar em fanicos obrigando a que os seus destroços fossem retirados com espátulas dos farolins traseiros da camioneta.
Vi, hoje à noite, na RTP 1, que possivelmente o acidente não teria ocorrido desta forma mas antes no decurso ou no final de uma ultrapassagem, com desvio de condução ou susto de ambos os condutores. Não sei se isso é verdade ou não, e confesso que durante a noite de hoje não voltei às notícias da SIC (há pouco sintonizei-a mas o Ricardo Costa, com quem até simpatizo, estava de tal forma a defender o actual governo que vim para o computador). Até podem ter corrigido entretanto os tiros cerrados anteriormente dados mas pareceu-me mal que esta estação de televisão que considero tivesse tido a atitude que descrevi atrás. Não se queimam assim as pessoas - é preciso ter certezas, primeiro.
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