AINDA SOBRE OS BLOGUES: Ao contrário do FNV, não acho que o texto de Pacheco Pereira (publicado agora no Abrupto) sobre os blogues seja um "bom texto". Claro que muitas das apreciações negativas que faz sobre a blogosfera são verdadeiras - o amiguismo, o lambe-botismo, a complacência, o auto-convencimento, a "redução temática". Mas isso são características demasiado óbvias, e a sua enunciação não é um exercício de grande originalidade, nem deveria dar corpo a um texto sobre a blogosfera. A não ser que se pretenda reduzir os blogues a isso, como se pretende. E é aqui que me parece haver um erro de análise. Bem sei que Pacheco Pereira nos previne e se previne: "Um dos rodriguinhos da escrita em Portugal é ter que sempre enunciar que há excepções. Há excepções? Claro que há, mas são mesmo excepções e não alteram a regra. A regra é esta. Eu estou a falar da regra". Mas o ponto é: qual o significado desta "regra"? Parece que P. Pereira utiliza um critério "estatístico", assente sobre a "média" dos blogues. Esse é um mau critério. Como seria, por exemplo, medir a "qualidade" da "classe política" sobre a "média" de todos os deputados, ministros e secretários de estado. Ora, a verdade é que há por aí alguns blogues muito bons, onde se encontra o essencial: pensamento e discurso originais. O facto de não serem muitos - nem, muitas vezes, os mais lidos - não permite considerá-los tão "excepcionais" que desmereçam qualquer atenção. De maneira que o texto de P. Pereira me parece duplamente parcial: trata apenas de uma parte da "regra" e apenas dos aspectos negativos dos blogues (aqui, sim, gerais e transversais) - mas que nem são, como o próprio mostra à saciedade, específicos deles.
O Pacheco Pereira parece agora apostado em engrossar as fileiras dos "enjoados" do tipo Vasco Pulido Valente e António Barreto. Julgam-se lúcidos e perspicazes, quando afinal são só velhos.
O PP gostava de continuar a ter o exclusivo da "vaidade" e da "verdade", que apenas é sua. Só que o seu passado mostra-nos alguém que tem vivido, gostosamente, paredes meias com o erro e com a manipulação.
Fala e escreve como se pertence a um mundo distante dos partidos, ele que é militante do PSD, partido onde exerceu cargos de grande importância e influência... especialmente no cavaquismo, o grande responsável pelas alterações sociais que "empurraram" as pessoas para a cultura do consumismo e individamento (tal como o guterrismo).
Não penso que haja mal em o Pacheco Pereira reflectir sobre os blogs e que o faça a partir de uma posição que o luis eme caracteriza muito bem. O problema é que não se percebe bem o que procura. todo o texto, excessivamente longo, vê-se que há ali necessidade de encher a página e muita falta de assunto o que vem sendo a norma desde há uns tempos, é um alinhavar de lugares comuns lapalissianos. Mesmo quando ele vai buscar o Eça... se ele vai buscar as observações do Eça aos jornais, e se acha que elas se aplicam aos blogs (ele refere "os blogs em Portugal" como se os blogs em Portugal tivessem alguma caracteristica distintiva, nacional, dos restantes), onde está a especificidade dos blogs? Se não há especificidade nos blogs (mesmo admitindo que a imprensa escrita estivesse hoje "liberta" dos defeitos que Eça lhe apontava e a critica se aplicasse exclusivamente aos blogs) que raio de interesse tem o texto? Quanto a mim pode ter dois: o primeiro é que pode fazer parte do seu processo de reflexão andar às voltas de um tema escrevendo coisas a eito sem grande estruturação. Nesse caso o texto seria uma espécie de rascunho cuja existência como rascunho apenas é traída pelo estatuto do pacheco pereira que faz com que qualquer coisa que escreva seja imediatamente lida com atenção, algo que de resto não lhe deve desagradar. a outra hipótese é tentar ler o texto do ponto de vista do egotismo próprio ao autor, um sistema muito próprio já por demais caracterizado. A que é que ele se quer referir exactamente? Ao facto de aparecer ao que parece em 18º lugar numa qualquer dessas listas de blogs que se fazem no fim do ano? resta-me uma nota de concordância com o joão pinto e castro. Já não há saco para os pessimistas ainda por cima profissionais.
É uma reflexão, algo pessimista, mas tenta analisar seriamente o fenómeno e apresenta os seus receios, valerá a pena vê-la como uma sentença do árbitro das elegâncias? É uma opinião reflexiva, vale o que vale. E até nem me parece assim tão mal - extensa talvez.
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