No ano de 1974, um professor da Universidade de Coimbra, Manuel Rodrigues, publicava uma separata ( A Exegese Bíblica e a Antiguidade Oriental) da sua dissertação de doutoramento. A páginas tantas,
"Os fundamentos da história da Grécia, da Itália e dos outros países europeus encontram-se no Oriente (...) Sob a picareta dos arqueólogos, as civilizações milenárias reaparecem a nossos olhos. Elas que pareciam estarem mortas e enterradas para sempre, afinal estavam apenas adormecidas."
Estavam adormecidas, mas depois de 1918,
"Concluído o armísticio que assinalou o termo do grande conflito europeu, uma nova era se abriu na hitória da Arqueologia do Oriente. O Iraque e a Síria ficaram sob mandatos britânico e francês, respectivamente. Certas regiões anteriormente consideradas como muito perigosas tornaram-se acolhedoras e os arqueólogos puderam trabalhar nelas tranquilamente.
Há portanto uma raíz europeia ( coisa que qualquer leitor distraído de Heródoto sabe perfeitamente) no Oriente, mas essa raíz tem de ser trabalhada pela técnica ocidental, e em sossego, como se de ovo de cuco se tratasse. Isto separa o conceito de "raíz oriental da civilização europeia" do de Heródoto. E o que separa é a geografia política e religiosa, não tenhamos dúvidas. Deixando de lado o maná que estas coisas são para os seguidores de E. Said, fica a pairar uma nuvem esquisita: por que motivo os povos que viviam no "Oriente" não apreciavam convenientemente os restos das "civilizações milenárias"? No Egipto, por exemplo, terá sido o Mahdi um dos locatários perigosos? Os turcos foram de certeza um empecilho para o desabrochar das "raízes europeias" e tiveram de ser desalojados das suas possessões iraquianas muito antes da I Grande Guerra; mas também estavam excessivamente enraizados na... Europa. (continua)
isto cheira-me a arqueologia pós-colonialista... em todo o caso, temos sempre as escavações dos talibans como exemplo, usando explosivo plástico nos budas de bamyan.
Mas deixando o vinagre e voltando à vaca fria: a arqueologia, quando tem uma agenda (mais ou menos) secreta, não deixa de ser mais uma acha no fogo do nacionalismo serôdio. Basta ver o que se passou em 3 ou 4 casos mais conhecidos:
1) a arqueologia de um naufrágio chinês no mar das ilhas Spratly, reclamadas pela China, em disputa com outros cinco países pelo petróleo que conterão(http://news.bbc.co.uk/2/hi/asia-pacific/331763.stm);
2) Israel e a arqueologia bíblica, como forma de legitimizar a reinvidicação ao território que ocupam agora, de que foi epítome do sionismo a escavação de Masada;
3)A forma como o FYR da Macedónia se apropriou do desenho de uma estrela encontrada num artefacto proveniente de uma escavação em actual território grego de Vergina, bem como do próprio nome de Macedónia que, para os gregos, remete para o Império de Alexandre o Grande e que azedou as relações entre os dois países;
4) os murais de Saddam Hussein transvestido de Nabucodosonor da Babilónia do século VI a.C.;
5) a arqueologia do arianismo como suporte do Reich dos mil anos de Hitler;
6)a destruição da mesquita de Ayodhya, na Índia, em 1992, por fundamentalistas hindus - que levou ao encerramento do Congresso Mundial de Arqueologia, em Nova Delhi, em 1994, por os arqueólogos que denunciaram a destruição terem andado à pancada com arqueólogos indianos fundamentalistas que não queriam que o facto fosse mencionado....
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