"Não existe Islão moderado" significa uma ou ambas as coisas:
a) Que não existem estados islâmicos moderados. b) Que não existem muçulmanos moderados.
Se tomarmos a expressão "moderado" por west friendly não vamos lá, porque então a Arábia Saudita seria um exemplo de Islão moderado. Se lermos "moderado" como o acolhimento de preceitos ocidentais - secularização e eleições livres como expressão formal do processo político por exemplo - então Marrocos é um estado ( reino) fundamentalista. Por outro lado, se dissermos que não existem muçulmanos moderados, de Rabat a Java, estaremos a fazer um diagnóstico clínico e psico-social à escala planetária; e um disparate à mesma escala. O que de facto se pretende com expressão "não existe tal coisa como Islão moderado" é dizer que a "essência" do islamismo não permite a ocidentalização. Esta ocidentalização assenta em várias premissas que iremos desfolhar ao longo da série e que Karim Souroush ( o "Lutero" do Islão como divertidamente alguns lhe chamam) e muitos outros têm trabalhado. O nó górdio - sem termos Alexandre à mão - é , no entanto, o papel da religião na organização socio-política. O falhanço da industrialização e o asfixiamento das elites potencialmente inovadoras - aspectos clássicos de sociedades pré-capitalistas - são também apontados como efeitos do domínio do religioso sobre o político. Serão tratados à luz da experiência colonial, como Eça de Queiroz fez em "Egypto". O problema são os factos. Veremos, por exemplo, como funcionou o Afeganistão dos anos 50 ou a Indonésia dos anos 50/60 ( século passado), países que ensaiaram evoluções interessantes e nada condizentes com a opção binária moderado/fundamentalista. Mas claro que, pese o desgosto de alguns, teremos nesses casos de analisar a actuação da influência ocidental: o mundo não começou ontem.
A Arabia Saudita não é obviamente um exemplo de Islão moderado , mas não sei bem como é que se pode concluir que é "west friendly" , a menos que por Arabia Saudita se entenda família Saud.
Do ponto de vista pragmático penso que é west friendly: de outro modo a Guerra do Golfo e a operação iraquiana teriam sido outra história ( o que foi reconhecido pelos EUA).
Também eu estou à espera do que se segue. Este é um assunto que me interessa bastante. Ao ler este breve texto lembrei um dossier sobre o Islão feito pelo Economist há já uns anos em que eles, à boa maneira anglo-saxónica, explicavam que o atraso económico dos países Islâmicos assentava em três questões: a primeira que o FNV abordou leve no texto tem a ver com o papel da religião na organização socio-politica da sociedade, isto é na falta de separação entre o Estado e a Religião. A segunda e terceira decorrentes desta premissa têm a ver com a condição da mulher, (metade da população), e terceira com a educação e o ensino demasiado dominados pelo estudo religioso. Joana
Precisamente!Gostava muito de ver abordada por si uma questão que muito raramente se vê analisada, a da imensa e generalizada frustração sexual da juventude no mundo arabe e a influência que isso certamente tem em todos os radicalismos, fundamentalismos e militâncias.
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