FIM DE SEMANA VITORIOSO foi o que teve Obama nas eleições americanas deste fim de semana. Ganhou no Louisiana, Washington, Nebraska, Ilhas Virgens americanas e Maine. Como aqui foi previsto passou à frente em termos de delegados de Hillary Clinton (dependendo das contagens a vantagem está entre 40 a 60 delegados se não se contarem os super-delegados) e tornou-se o front runner. Na próxima terça-feira disputam-se as chamadas primárias do Potomac (Virginia, Maryland e Washington DC). A fazer fé nas sondagens e estudos de opinião, Obama consolidará a sua vantagem. Dia 19 de Fevereiro disputa-se o Wisconsin e o Hawai (onde Obama cresceu e é considerado um filho dilecto). Obama pode vir a ter um mês de Fevereiro totalmente vitorioso. A campanha de Hillary Clinton acredita que poderá voltar a ganhar nas primárias do Texas (mais de 228 delegados) e Ohio (161 delegados) a 4 de Março. O estado da Pennsylvania (188 delegados) a 22 de Abril poderá também ser favorável a Hillary. Este argumento assenta na ideia de uma composição demográfica destes estados mais favorável a Hillary - alta percentagem de votantes de mais baixo rendimento, de democratas tradicionais e de latino-americanos - os grupos que mais têm votado em Clinton durante este processo. Há, no entanto, algo de giulianesco neste argumento: a ideia de que se consegue escolher com precisão os estados onde se irá ganhar, aguentando entretanto uma dinâmica de vitória de semanas por parte dos adversários. A estrutura da campanha de Hillary Clinton demonstra algumas dificuldades - a directora de campanha foi mudada e chegaram a ser noticiados alguns problemas financeiras (entretanto superados). O problema de Clinton é que o seu argumento da experiência não é muito valorizado num ambiente de mudança. Concorrer contra um movimento é muito difícil e provavelmente votado ao fracasso, mesmo quando se é uma talentosa e bem preparada política. Uma das vantagens que Clinton refere amiúde é que é uma mulher dura, habituada aos ataques republicanos que consegue aguentar e contra-atacar - esta ideia reforça a convicção de muitos eleitores de que os Clinton são os representantes no Partido Democrático da cultura de guerrilha partidária extrema que se instalou em Washington e bloqueia o sistema. Esta imagem é sobretudo prejudicial quando o seu adversário tem um discurso optimista, pela positiva e fala constantemente na imperiosa necessidade de trabalhar com os republicanos no Congresso e estes nomearam alguém com prestígio transpartidário. Para dificultar, o facto de a corrida republicana estar praticamente decidida libertará muitos independentes, que considerariam votar nas primárias republicanas em McCain, para poderem votar nas eleições primárias democratas onde estas forem abertas, como é o caso do Texas. Este independentes deverão apoiar Obama, dada a imagem de sectarismo partidário (não encontrei melhor tradução para partisanship) que está definitivamente colada a Hillary. Acresce a forma desastrada como os Clinton se comportaram durante os últimos meses, esperando uma coroação e um desfile triunfais, com atitudes infelizes e completamente autistas e distantes dos sinais de insatisfação que lhes vinham do eleitorado. Por último, refira-se que um eleitor com a minha idade (37 anos) nunca conseguiu votar numas eleições gerais em que não houvesse um Bush ou um Clinton num boletim de voto, o que explicará em parte o forte apoio dos jovens a Obama. O Partido Democrático arrisca-se a entrar numa fase de enorme confusão a seguir a Abril, se esta contenda não estiver clarificada. Se a nomeação fôr decidida pelos super-delegados (delegados não eleitos, com direito a voto por inerência e que podem mudar de opinião até ao dia da convenção), isso seria uma prenda demasiado óbvia para os republicanos que não se cansariam de apontar a menor legitimidade democrática do candidato democrata. Poder-se-ão ter de repetir as primárias do Michigan e da Florida (que Clinton ganhou) dado que os seus inúmeros delegados (somados são cerca de 350) não foram registados como castigo da antecipação da data das primárias - todos os candidatos se comprometeram a não contar com esses delegados e no Michigan apenas o nome de Clinton surgiu no boletim de voto. Obama obteve mais apoios e declarações favoráveis de peso - da neta de Eisenhower (republicana) até uma entrevista de Collin Powell que referia ser o seu programa de relações internacionais e segurança bastante razoável e que, apesar de referir algumas discordâncias de policy, deixou entreaberta a possibilidade de o vir a apoiar. Talvez reflectindo o facto de estar cada vez mais perto de ser o candidato democrata, o discurso de Obama começa a ganhar alguma especificidade, mais prosa e menos poesia - uma mudança subtil mas progressiva e notória. Metade dos seus discursos são dedicados a John McCain para transmitir a ideia de que está preparado para o combate de Novembro. A situação está muito complicada para Clinton. Mas qualquer observador da política americaa não tem dúvidas de um facto: os Clinton são resilientes, duros, muito habituados a pressão e especialistas em virar a seu favor situações desfavoráveis. Começa a ser o tempo de aplicar, e em força, esses talentos.
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