A morte de um pai, quando já somos adultos e pais, devolve-nos o espelho. Olhamos para os nossos filhos e pensamos o óbvio. Agora somos o último elo. De certa forma, a nossa infância é enterrada. As mulheres - as que foram amadas pelos pais - talvez sintam isto de um modo especial. A sombra protectora terá de encontrar um novo sol e nem sempre o marido se presta ao papel. Se a mulher está sozinha, regressa ao tempo em que o pai ia de viagem. E à noite. E aos pesadelos.
Há quase onze anos vi-me nesse espelho.Enquanto lhe retirava a aliança do dedo,recolhia o relógio,óculos e me preparava para deixar o quarto do hospital,pensei exactamente nisso,..."agora já sou eu..."(que frio e magro espólio se recolhe nesse momento),daqui a quantos anos o meu filho ou a minha filha virão(?) fazer o mesmo.Recordei os dias de caça juntos,as vezes em que tentámos ver o "raio verde", nos inesquecíveis ocasos da Praia de Santa Cruz,as tertúlias da Taberna do Quinzena e,com a garganta a arder,agradeci-lhe tudo isso e muito mais. Asim eu possa um dia partir também.
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