Uma psicóloga diz na Visão que qualquer palmada dada a uma criança é sempre uma violência que é um sinal de escalada torcionária. Dei sempre palmadas ( no rabo e nas mãos ) aos meus filhos quando eles eram pequenos e nunca dei conta que isso me tivesse transformado num nadziratel ou tornado a minha casa num kontslager. Uma irmã minha que não seguiu a linha familiar ( é química) costuma dizer que as crianças pequenas devem ser tratadas como os cachorrinhos: muito carinho, regras simples e umas palmadas nas alturas certas. Não é, portanto, uma relação de poder que está em causa ( apesar de já haver psicólogos para cães). Desde que os meus filhos cresceram nunca foi preciso dar-lhes uma estalada. Sabem comportar-se à mesa, sabem viajar de automóvel, sabem estar numa sala de aula. Aprenderam, na altura certa, o essencial sobre as boas maneiras. Tudo isto levou muito tempo, muitas horas juntos, muita algazarra, muitas beijocas pelo meio. Eles fazem - e farão - asneiras como todos os miúdos, mas são livres: conhecem os limites que ultrapassarão quando quiserem e suportando as consequências dos seus actos. Não foram criados num mundo imaginário.
Eu não tenho nada contra as "correcções de trajectória", quando um pequeno anda "desorientado". Fui criado assim, e à parte dum ou outro excesso, não penso que tenha vindo daí mal ao mundo. Agora a coisa não é generalizável e muitos casos há em que dois irmãos educados exactamente da mesma maneira acabam por se comportar de maneira muito diferente.
Palmadas no rabo nunca dei. Uns estalos sim, embora tendo tentado partir do pressuposto de que isso deveria ser evitável. Não consegui sempre, e confesso que isso não me rouba o sono de forma alguma. O amor é fundamental, regras e limites (que são respeitadas!) também. Já agora, uma relação pai-filho é sempre uma relação de poder, com ou sem palmadas. Um levantar da voz pode ter o mesmo efeito, desde que não se banalize a berraria. E não é necessariamente menos violento. O que acho desadequados para crianças pequenas são castigos não imediatos, tipo não haver doces, cancelamento do jardim zoologico etc. A censura tem que ser imediata e o assunto depois têm que estar encerrado. Aí a palmadinha está em vantagem perante muitos outros castigos. Para crianças mais crescidos isso é diferente. Pois o que me repugna nos castigos corporais é o seu aspecto de humilhação. Este não tem importância numa relação com um menino de quatro anos, mas já com um de dez. Aqui prefiro os castigos mais elaborados, como de serviços extra, dedução da mesada etc. se for preciso. Mas felizmente muito raras vezes é.
Não é uma relação de poder no sentido sociológico do termo, se quiseres no sentido da mais sedutora das concepções ( de Crozier e Friedbherg): dois actores que jogam os seus atributos de forma a influenciar o resultado final do jogo social.
completamente de acordo.Os meus filhos crescidos também se portam bem, e eu não acho que tenha sido por sorte. Apesar de não dar palmadas no rabo, nem nos pequenos, tirando quando eles estão descontrolados "histéricos". Mas não o faço mais porque não é o meu feitio, não por condenar. Muito amor e muitos nãos é, quanto a mim, a receita. E não sou psicóloga.
Claro Isabel: as palmadas que referi foram dadas em circunstâncias excepcionais. Aliás aproveito para acrescentar isto: se os pais passarem muitas horas com os filhos, um par de palmadas tem um valor; se esse par de palmadas for quase o único acto educativo, tem outro.
eu até te precebo e até posso estar de acordo com a tua postura geral
mas continuo sem perceber quando é que bater, dar palmadas ou qualquer acto similar tem que ser necessário
então essa das "histerias" ou das "circunstâncias excepcionais" é magnífica; perante "histerias/circunstâncias excepcionais" temos comportamentos excepcionalmente histéricos, isto é, toca de arrear nos pequenos
Boa pergunta, Timshel. Vou-te contar uma série de confrontos que tive com a miha filha mais nova quando ela tiha dois anos. Fazia birras a comer ( normal), mas a certa altura começou a atirar comida para o chão. Começou também a tentar escolher ocasiões sociais em que se julgava protegida ( quando os avós vinham almoçar, por exemplo). A censura "explicativa" não funcionou. Então eu levava-a para o quarto dela e para além da censura "explicativa" dava-lhe uma palmada no rabo; depois regressávamos para a mesa. O comportamento extinguiu-se. Lembra-te disto quando quiseres almoçar descansado num restaurante.
PS: E volto a repetir: isto só faz sentido num quadro de grande presença parental, brincadeira a rodos e muitas beijocas. Mesmo quando se está cansado.
se eu quiser estar sempre descansado com crianças até posso fazer mais: cada vez que elas se mexem dou-lhes uma palmada
vais ver como ao fim de algum tempo elas ficam sempre completamente imobilizadas para eu poder estar sempre descansado a almoçar num restaurante
é mais fácil do que tentar compreender porque razão eles fazem fitas e mais fácil do que tentar inteligentemente reflectir e adoptar comportamentos alternativos (que os façam produzir comportamentos alternativos mais adequados)
as palmadas permitem obter aparentemente (por vezes) uma extinção rápida do comportamento inadequado; seria interessante contudo saber também o que "ensinam" para além da extinção rápida do tal comportamento inadequado
A primeira frase do teu comentário mostra ( confirma) que não queres discutir nada: ninguém aqui disse que se deve bater nas crianças sempre que elas se mexem.
Afinal enganei-me. Vão ler o que este indivíduo escreveu no seu blogue: que eu advogo a "utilisação" (sic) "da porrada" como método educativo. Depos releiam o meu post.
tomara eu que todos os erros na formação das crianças fossem tão graves como os teus (embora mantenha integralmente o que escrevi - por isso é que estás a ser instrumental:))
-Nunca mentir e responder às perguntas de acordo com a evolução mental e emocional da criança.
-explicar bem o porquê do que "não se faz".
-Dizer que a mãe e o pai não são perfeitos. Que também se enganam.
-Ceder em pequenas coisas, para ser inabalável nas grandes.Procurar ter critérios regulares e imparciais.
-Não esconder precipitadamente a própria nudez.
-Deixar desarrumar a casa e os brinquedos. Ir subindo os livros nas prrateleiras das estantes e preparar-se para alguma perda "cerâmica". Assim pode-se exigir disciplina nas casas alheias. "Só na nossa casa se pode desarrumar".
Palmadas e puxões-de-orelhas:
-Se apesar deste programa a criança insiste em ir comer ao prato do gato, meter os desos em tomadas eléctricas ou querer fazer de homem-aranha na varanda.
As criancinhas guinchantes e mal-educadas, que os nossos pobres ouvidos "sofrem" nos restaurantes, nos centros comerciais, etc, perante o ar bovino e sonso dos adultos que as acompanham, são aquelas que serão incapazes de fixar a atenção e aprender a discernir limites; renitentes a qualquer aprendizagem que precise de um pouco de concentração e esforço. Porque a vida não é só ludismo e hedonismo.
Eu não sou adepto de radicalismos do género nunca se deve dar uma palmada ou o contrário, só à porrada é que eles entendem. Acho mesmo que um estalo na altura certa pode ser remédio santo. Mas, por regra, sou contra o uso de qualquer violência física ou verbal e sou adepto da explicação, da palavra e do olhar. Fico estragado quando bato aos meus filhos. Porque a maior parte das vezes, bem vistas as coisas, a culpa foi do meu cansaço, do meu stress, da minha falta de tempo e de atenção para com eles. É isso que normalmente nos leva à solução mais fácil e porventura eficaz. Por isso também é que quando estamos bem-dispostos tudo se tolera e resolve. Pode parecer naife da minha parte, mas questiono-me, se nunca usássemos qualquer tipo de violência física ou verbal para com as crianças o mundo não tendia a ser mais pacífico?
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