QUEM GUARDA A GUARDA? O problema, Filipe, não é de tacticismo político pois de há uns anos a esta parte não se descortina qualquer espécie de táctica política em qualquer um dos partidos políticos (talvez com excepção do Bloco, mas cuja táctica se resume a fazer barulho).
A questão é que o novelo de trapalhadas que se encontra de cada vez que se dá uma espreitadela à vida passada (por isso é melhor nem vasculharmos a presente!) de José Sócrates é de um emaranhado tal que deveria assustar qualquer um. E é perfeitamente legítimo que os jornalistas investiguem (eles, que já tão raras vezes fazem isso) e divulguem essas situações que são sempre, no mínimo, pouco claras. Criticar a comunicação social por fazer essa investigação e divulgar os factos que descobre é que não se percebe. Muito menos por serem ocorrências passadas há 20 anos: pode-se tentar cortar com o passado mas ele não corta connosco.
Grassa uma corrente que barafusta contra os jornalistas dizendo-lhes jocosamente para irem investigar a vida de Sócrates na primária; o próprio diz que se forem analisar a sua vida nas décadas de 70 e de 60 encontrarão muita coisa e eu, por uma vez, acredito nele. Mas vamos a cada década de cada vez.
O mais recente conjunto de episódios relatado pode ser visto e tratado de três formas. Uma vez que já quase nada nos espanta, temos à cabeça a humorística ("qualquer criança de sete anos faz em lego casas melhores do que aquelas", "se ele deixou a Guarda assim como deixará o país?", "e diz-se ele amigo do ambiente?", etc., etc.), mas o caso é sério demais para nos cingirmos à laracha. Temos a formal, que é discutir a assinatura de favor, embora me pareça um tema pouco interessante. E temos a que realmente importa, que é ter-se constatado que havia ali na Câmara da Guarda uma trupezinha de amigos, uma pandilha de antigos colegas de curso que driblavam as regras e permitiam-se apresentar projectos na Câmara, feitos por si e aparentemente assinados pelo agora PM. Projectos esses que depois tinham um andamento surpreendentemente apressado e viabilidades extremamente suspeitas. Sócrates nunca recebeu por isso? É possível. Só queria ajudar os amigos e os munícipes em dificuldades? Até pode ser. Mas a verdade é que se verifica que existe na Guarda um número certamente elevadíssimo de munícipes que não tiveram acesso a este..., bem..., a este expediente processual autárquico original e provavelmente viram os seus projectos atrasados ou indeferidos. Quem guarda estes munícipes desfavorecidos?
Principalmente, VLX, seria bom sabermos como tenciona essa pessoa combater a corrpução nas câmaras e no aparelho do Estado, agora que é primeiro-ministro.
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