Uma jornalista incomodada com o facto de haver em França jovens e adultos sexualmente abstinentes, termina a sua peça ( na Visão desta semana) perguntando:"Foi para isto que se fez o Maio de 68?" . Para além da ignorância ( o Maio de 68 não foi "feito" para coisa nenhuma, foi-se fazendo), a conclusão da jornalista demonstra que a abstinência pode não ser apenas sexual. Aos leitores que se interessem por este tema recomendo uma colectânea curiosa: "Celibacy, Culture and Society: The Anthropology of Sexual Abstinence" ( Elisa Sobo & Sandra Bell Eds., University of Wisconsin Press 2001). Kim Gutschow escreve sobre as mulheres que se recusam a ser trocadas no noroeste indiano ( Zangskar), Hiroko Kawanami diz-nos das apyo-gyi, as "Grandes Virgens" birmanesas que tanto podem ser empresárias de sucesso como tias profissionais, sempre respeitadas e admiradas. Também há para homem: Michael Duke descreve a abstinência sexual entre os mazatecos de Huautla de Jimenez. Enfim, o que não houve em todas estas comunidades foi o "Maio de 68". E foram poupadas ao solipsismo imbecil.
Mutatis mutandis, só falta à dita jornalista admirar-se de não ver os nossos jovens com um cravo preso às mochila ou às jardineiras para comemorar o 25 de Abril...
É universal a tendência para se observar o mundo pelo umbilical binóculo... Os resultados não são brilhantes...Compreender os outros pelas nossas idiossincrasias nunca foi muito profícuo em termos evolutivos...
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