Tanto Israel como o Hamas visam alvos. O Hamas visa apenas civis, Israel visa o Hamas e atinge por vezes civis. É um facto. No entanto, o ponto preferido dos media portugueses é este: Israel mata mais. Isto é deveras espantoso. O Hamas só está em baixo na contabilidade macabra porque não tem as armas de Israel. Ou alguém pensa que um tipo que odeia o vizinho e lhe atira pedras todos os dias desdenharia usar uma metralhadora?
E há mais. Quando o Hamas lança um rocket ou um bombista suicida se rebenta junto de outros, os jornais e tvs referem que "n pessoas morreram na sequência de ...". Quando Israel riposta, vem "... o ataque de Israel matou n pessoas, incluindo crianças...".
Ora aí está uma bela lógica, que serve também para justificar todas as "guerras preventivas", a cadeira eléctrica, a tortura "selectiva" e o extermínio de vários povos aborígenes. Que tristeza, Filipe. Que tristeza.
Não percebi: limitei-me a sublinhar que um dos lados não mata mais porque não pode. O que é que isto tem a ver com a cadeira eléctrica e a tortura selectiva?
Os talibãs torturariam (e torturaram) americanos se os apanhassem, os criminosos usariam cadeiras eléctricas contra os juizes se as tivessem ao dispôr, os aborígenes exterminariam os povos do ocidente se estes não tivessem uma moca maior.
Mas a questão não é a de saber quem tem uma moca maior: é a de saber quem vigia melhor o uso, como direi, mais "generoso" das suas próprias mocas. É isso que distingue a civilização da barbárie.
A menos que se trate de Israel, claro. Aí, até os leopardos descem das árvores e ficam perdidos no capim.
Na mesma linha de raciocínio também podias defender que as crianças mortas pelas tropas israelitas iriam crescer, se a fome o permitisse, e que mais tarde ou mais cedo atariam uma bomba à ilharga. E nada como acabar como com esses pequenos criminosos antes da puberdade — ou ainda arriscávamos a que se multiplicassem como ratos...
Não é bem assim, Luis, não se trata de tuer d'avance. O Hamas atira a partir de trincheiras civis e a resposta israelita - e eu disse-o - mata civis que não têm culpa nenhuma. O que me parece estranho é julgar moralmente a desproporção: ela resulta apenas e só do contexto.
Caro FNV, O Hamas só está em baixo na contabilidade macabra, porque na prática essa contabilidade não é o que mais importa. Penso que, se o Hamas tivesse as armas de Israel, iria mesmo manter este "deficit". O efeito surpresa dos atentados bombista é, de longe, muito mais eficaz do que qualquer "raid" israelita. Os atentados tem consequências que se perpetuam por muito mais tempo, são quase inevitáveis, podem matar menos, mas dilaceram, torturam, aterrorizam muitas mais pessoas tendo ainda um enorme impacto mediático. Estratégicamente, empurram quase sempre Israel para a retaliação, sempre previsível, apesar de mortífera (Olho por olho, ...) Quanto à morte de civis, é acima de tudo uma questão de pressão externa. Uma indicador externo para que outros possam perceber as dimensões do conflito. No joguinho de rancores Israel-Hamas está mais do que estabelecido que iriam ocorrer, até porque fortalecem ambas as posições. Israel, face à pressão ocidental, só tem legitimidade (se é que a tem), de atacar em retaliação. E claro que aí aproveita para demonstrar alguma da sua capacidade bélica. Claro que existem outros aspectos que contribuem para a mortalidade dos civis. É o facto de isto ser um conflito civil. O bombista, não é um soldado, é um civil como os outros. Não existem propriamente campos de batalha, bombardeiam-se cidades com alguma densidade populacional e com famílias numerosas (no caso de Israel, procura-se locais onde haja mais confluência de habitantes), onde crianças e outros martires involutários abundam. Logo a questão de mais armas, não implica linearmente mais mortes. Cada qual luta com as armas que tem, e com aquelas que melhor domina.
Acho a pergunta a colocar é - se não queremos entrar num pacifismo fundamentalista - qual é o objectivo militar dos ataques israelitas. Visam reduzir o potencial de agressão do Hamas, ou trata-se de pura vingança? A vingança não é justificável. Se os raids fazem sentido militar, não sei dizer à distância. Duvido...
"O que me parece estranho é julgar moralmente a desproporção: ela resulta apenas e só do contexto."
Pois: tal como a desproporção entre indios e comboys — essa também resultava "do contexto". Os cowboys ganharam e os indios que não foram chacinados apodrecem em reservas. Vamos repetir a receita duzentos anos depois?
Quanto ao "contexto": basta olharmos para o mapa da faixa de gaza e para os dados demográficos para entendermos qual é o "contexto". A maior densidade populacional do mundo, as infraestruturas sistematicamente destruidas (e por quem, Filipe?), as deslocações impossíveis, a economia eternamente sabotada. Porque é que não assumem de uma vez por todas que os querem matar à fome, Filipe? Seria mais honesto: diziam apenas que eles eram maus e que mereciam morrer. E acabava-se a conversa.
A verdade é que as pessoas tratam países e civilizações inteiras como se fossem clubes de futebol e até legitimam as chacinas com argumentos de opera bufa: leia-se a comentadora que afirma que o hamas "mata menos mas aterroriza muito mais" - deve ser a isto que chamam "o ridículo que mata".
Boa noite, Além do meu acordo ao texto do FNV, penso que o Lutz coloca uma questão importante : qual o objectivo militar dos ataques de Israel ? Colocada questão eu diria que é para defender o seu estado e não de pura vingança. Porque se de vingança se tratasse já teriam resolvido o assunto. Vingança será a atitude do Hamas e de outor grupos palestinianos que apenas visam matar civis. Cumprimentos
O Hamas coloca deliberadamente os civis na linha de fogo. Os civis são a melhor defesa dos seus alvos militares. As famílias palestinianos choram os seus entes queridos. Os dirigentes usam os civis como escudo humano e depois como arma de propaganda. Não defenderia que os israelitas são anjos impolutos. Os anjos não fazem a guerra. Mas depois de ver isto ( http://hekate-hkt.blogspot.com/2008/02/sementes-de-violncia-1.html ) que mais se pode dizer??
caro Luís, desculpo-me desde já pela frieza (excessiva) das minhas palavras e por esta a ter levado a pensar que acho legítimo as chacinas, quer sejam de palestinianos ou de Israelitas. Mais, permita-me que restrinja ainda a minha análise ao governo de Olmert vs Hamas, para corrigir algum juízo de valor e que frize que não tomo partido por nenhuma das fracções.
Permitindo-me responder à pergunta sobre a intenção dos ataques de Israel (i.e. Olmert): A hipótese "defesa", não me parece muito óbvia, a menos que esta operação toda servisse para "manter a ordem" face à polémica dos incidentes no muro, o que eu acho algo perverso. Acredito mais, apesar do timing tardio, na opção "reacção/retaliação" (vingança parece-me demasiado...), pois a conjuntura de Israel quase a exige- desemprego nos 10%, economia em baixo, governo minoritário com acordos de estabilidade com fracções mais radicais, convivência interna turbulenta entre as várias gerações, diminuição da actividade económica, diminuição do investimento externo, cedência nas negociações dos colonatos, etc E apesar da crescente onda de judeus moderados, internamente culpabiliza-se as investidas do Hamas como sendo os responsáveis dos problemas internos, baixando o limiar da tolerabilidade face a eventuais negociações de paz (que paradoxalmente é o bem mais desejado) Mas com o volte-face da retirada das tropas, muitos destes argumentos fraquejam, deixando-me também com muitas dúvidas...
Na questão das infraestruturas tens razão, Luis, e por isso aqui há tempos disse que não se podia o género humano com o Manuel Germano. O HKT e a Helena ( o Lutz e o António vão por outro lado) tocam no nervo: grande parte do contexto, a sujidade desta guerra, deve-se à utilização de civis pelo Hamas. Recordo que quando Israel retirou do Líbano ( no ano passado)ainda lá ficou o Hamas que entrou em conflito com o exército libanês: o tratamento-esquecimento dado à coisa foi eloquente.
Acho que, às vezes, ou mesmo quase sempre, não faz mal a ninguém "conhecer" (ou procurar "informar-se" sobre...)a História do Povo Judeu e a construção "ideológica" e ainda assim religiosa desse Povo.
A leitura da Biblia ajuda, a leitura do Flávio Josefo ajuda, o estudo da História da Mesopotâmia (Suméria, Assiria, Babilónia,Fenicios, etc), da Pérsia, do Egipto, de Roma e etc...
Os especialistas em História das Civilizações Pré-clássicas, sustentam que a Religião, que as tribos de Israel, o Povo Judeu, foi segregando - transformando-se, paulatinamente, numa ideologia de conquista!
Vejam as campanhas travadas pelos patriarcas, pelos Reis e etc...com vitórias tremendas e derrotas humilhantes!
Espantados? Claro que não!
O que assistimos hoje, segundo o nosso amigo, venerado, "Mar Salgado", é a uma espécie de remake do David e do Golias... em que, supostamente os rapazes do Hamas seria o David do século XXI!
Em meu modesto entender, nada disso.
O que TODOS presenciamos, hoje, no concerto das Nações, dos nacionalismos, dos peões do Império USA, dos antigos impérios e dos emergentes BRIC (a que deveremos juntar o IRÂO e a VENEZUELA) é a um desenrolar da História,que parece percorrer o fio vermelho de Ariadne e sem final feliz:damos mesmo com os cornos no Minotauro, que, neste lance infeliz, nos derruba e nos estafega.
Como diria um cineasta françês (creio que era o Godart, ao tempo da sua militância "gauchiste"...):"A história, repete-se? Não, gagueja!"
Isto é mais uma "boutade", do que uma tese com um minimo de rigor, mas que há linhas de continuidade...lá isso existem.
E porquê?
Porque na história da humana humanidade, 2000 anos são coisa pouca.
A mim, não me apanham a tomar partido nesta CAUSA Israelo-palestiniana: não há bons, nem maus da fita: simplesmente - contendores!
De facto, Ana. Mas esta maioria é um fenómeno recente, segundo o Haaretz, e pelos vistos é muito mais moderada do que os políticos que foram por ela eleitos eleitos e que estão a governar Israel. http://www.haaretz.com/hasen/spages/958473.html
Esive a inteirar-me desta "elucidativa" conversa. Vi para aí uma "cadeira eléctrica", algo desactualizada.Consta que a pena máxima, agora, lá nos States é a "injecção letal".
Conheço bem o Antigo Testamento, até já estive em Israel e na Jordânia, antes da era dos "mártires-suicidas". Essa cena de invocar o "belicismo" do povo judeu, baseando-se no Antigo Testamento é risível.Por que será que ninguém se lembra de Einstein, de Horovitz ou de Woody Allen? Ou então de George Steiner, que frisou a "Barbárie da Ignorância"? E por que é que ninguém fala dos corruptos líderes palestinianos, que em vez de matarem a fome ao povo, ainda açambarcam as ajudas internacionais para contas privadas em bancos europeus?Afinal, como acabou a historinha financeira do Arafat, depois da sua morte?
Se a criação do Estado de Israel, no pós-guerra é discutível, aos olhos da mentalidade actual, isso vale o quê??? Os conflitos civilizacionais,económicos, religiosos, não são historinhas de banda desenhada entre bons e maus, para descanso e facilidade da nossa consciência "histórica", que quer ser da equipa dos "bons".São caldeamentos milenares, com procedimentos, éticas e "contextos" mutáveis.E ainda bem. Se não, ainda andavamos, por aí, no canibalismo....
Força "Mar Salgado"! Olhe que o "Mar Morto" é muito mais salgado! Trouxe de lá um seixo, que ainda hoje, sabe a sal, apesar dos anos.
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