Perdoar é um acto de poder. Por vezes não podemos, como não podemos suportar uma perda, uma traição, ou uma sucessão de dias felizes ( Goethe). Afastarmo-nos, apagar do nosso ritmo diário quem nos fez mal, é uma alternativa ao perdão. É um governo provisório que gere os assuntos correntes, uma coligação entre a realidade e a dignidade. Se alguém nos tratou como sua propriedade, perdoar não está em cima da mesa. Os escravos não perdoam, não têm esse direito.
O perdão é, de facto, um acto higiénico que oferecemos à nossa sanidade mental e evolução espiritual. É um acto de poder- o poder de nos auto-superarmos e não nos prendermos com sentimentos negativos que só os fazem dar valentes tiros no pé. Quem permanece com a sujidade que alguém lhe quer impor no ADN está, no fundo, a permitir que o agressor lhe provoque o maior dos danos- permanecer dentro de si. Perdoar não é esquecer porque quem esquece não perdoa, apenas beneficia da complacência de uma fraca memória. Perdoar é ter memória, mas superar-se a si próprio, sublimando um sentimento negativo que danifica gravemente quem o detém- o rancor; reciclando-o em energia positiva, sempre benéfica. E, depois, para os crentes, há sempre aquela Instituição Implacável Cuja Memória é cartográfica e Cuja Acção é Implacável- o Melhor Juiz que Sabe Exactamente as lições que cada um deve receber como reacção às suas boas ou más acções.
Ui, que desilusão:(:(.(:(:(:(:(:(:( Karl Marx? Não...
Mas que bonzinho que está, F! Vou recomendá-lo para a catequese dos Franciscanos (e olhe que acabava era a catequizar os catequistas, com esse jeitão que tem para levar a água ao seu moínho:):)
Ná... esta sua sabedoria de hoje tem umas venerandas barbas, por debaixo de uns olhos cansados e argutos, que já viram muito... Mas eu ainda não vivi nem metade desse tempo:(:(:(
Não há teorias totalitárias sobre os sentimentos que nos valham (se formos sinceros): Porque t-u-d-o d-e-p-e-n-d-e!:) Para mim, a vida é mais do género vale-o-que-vale. E 'cá se fazem cá se pagam'. Eu não empurro! Depois vou é a correr, salvar; ou fico é de camarote, a ver...
Depende.:):):):):):)
(Já agora, e se experimentasse trocar os termos da equação? Mandadores para 1 lado, mandados para o outro? Tb. acontece... Não troca? :( :( Pronto!:( Concedo-lhe mais 50 anos de vida para experimentar! Bom domingo:):) Teresa
Entendo. Seguem-se as saudades dos vivos, o tele-ciüme, o preço que se paga pela distäncia que interpomos entre nös e os outros. Mais inquientante que o saber ou näo perdoar, ë como aprender a suportar uma perda sanguïnea. Dias dificeis se avizinham...
Os escravos passam a ter esse direito na exacta medida em que o perdão lhes seja pedido. Se fomos tratados como propriedade, o que de alguma forma nos torna uma fracção desse alguém, cabe ao nosso proprietário repôr o equilíbrio ao dar-nos o poder de escolha entre a continuidade na relação ou o afastamento.
Pessoalmente acredito que em determinadas situações, a continuidade na relação seria mantida mais facilmente se o faltoso não pedisse perdão. Optar por viver na sequência dos erros cometidos e reconhecidos, sem exigir esforços adicionais de digestão da outra parte para nos aplacar a consciência, é o que defendo.
apagar do ritmo diário quem nos fez mal é uma parte necessária do processo. mas depois o perdão acaba por ser necessário também... para fazer as pazes connosco próprios, para aceitar q por vezes nos enganamos a escolher quem deixamos que se aproxime. ou, no caso das ligações de sangue, pq estando mal c elas está-se mal c o mundo. pelo menos comigo, isto do perdão tem sido assim...
Yeees!! Finalmente a noção de que o perdão tem 2 sujeitos paritários, oufa! Aqui largámos o materialismo e passámos a uma de Stuart Mill, prefiro de longe. Perdão? Pois é... há o que pode dar e há o que pode pedir! Merecer o perdão não depende só da gravidade da falta, nem caduca no acto. Muito pode acontecer depois (e atenção guionistas de telenovelas, pk não falo de 'reconstituição natural' nem coisa parecida).
Simplesmente não fica tudo entregue ao arbítrio do ofendido! (era bom era).
Teresa
PS- Filipe, você é um bom-mau, como todas as pessoas brilhantes
Desculpe a apropriação Isabel Metello mas, a este respeito, faço minhas as suas palavras, todas elas! De facto esquecer não é perdoar;se fizermos a analogia entre esta higiene da alma e a do corpo, também ninguém fica lavado por se esquecer que se esqueceu de tomar banho.
Evam, idem. Continuando com a analogia higiénica, e já que isto dos hábitos, neste departamento, são, essencialmente, culturais, os ataques alzheimerísticos (perdoe-me o neologismo) ainda são mais ingratos e dramáticos quando alguém com vontade genuína de tomar um bom banho, confunde a retrete com a banheira, o piaçaba com a esponja e o desentope canos com o gel...Que maçada, já não se tomam banhos como antigamente.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.