Anos a fio a ouvir histórias de amores e é sempre a mesma coisa: elas querem tudo, eles só querem uma coisa. Se há um amor feminino, ele é uma mancha de óleo no mar do norte. Elas querem filhos, carinho, segurança, dinheiro, diversão. É um amor adulto, total, absoluto. Se existe um amor masculino, ele enrola-se na posse. O corpo delas, evidentemente, mas também a cabeça. O ciúme masculino é sempre um adiantamento que a imaginação faz ao lençol. Mas esgota-se quando chega o novo catálogo. É um amor igual ao que as mulheres têm por um par de sapatos novos.
Lençol? Há outros avatares menos "clássicos". Estou a lembrar-me, por exemplo, da "Atracção Fatal", fita muito vista, à época, que incluía lava-louças e elevadores.
Sapatos? Costumavam vir com o Príncipe, mais um jovem lacaio com a almofada de cetim, de armas bordadas a ouro.
Catálogos? A Carta dos Vinhos, naquele restaurante de Lisboa, que paga 500 euros de renda à autarquia.
Ciúmes? Reexpediram-se para o Caim bíblico ou para o Mouro de Veneza.
Mas há uma premissa que destoa gritantemente do seu remate! (também não admira porque nestas coisas, mesmo quando querem fazer de contas que pensam, os homens são sempre muito incoerentes;);) “O corpo delas, evidentemente, mas também a cabeça” Há-de explicar-me como é que o apelo sazonal do catálogo inclui informações sobre o intelecto e o emocional do produto… Quanto ao tal irresistível capricho sobre os sapatos do momento (bem achado, sim senhor). Eu até concordo em absoluto com a equivalência… Mas não há cá batotas nenhumas! O desejo feroz da posse é só mesmo para enfiar o pezinho, mai-na-da:)
Como é que a cabeça faz parte do catálogo? Até me espanto de você perguntar isso eh eh eh ... Bem, passe um dia num tribunal de família ou então ouça dez mulheres enganadas...
Hummm!! Esta equivalência não está com nada aqui para os meus lados! A mim enfurece-me saber que, quando encontro um par de sapatos de que realmente gosto, não terei possibilidade de o substituir por outro exactamente igual quando aqueles "resolvem pedir a reforma".
Tenho o maior desprezo por tribunais de família e os seus técnicos inenarráveis. Quanto ao catálogo, continuo sem perceber...:):) Ao contrário do tal acelerado ritmo sazonal, que esse percebo cada vez melhor:) Deve ser por isso que o A. Lobo Antunes dizia numa entrevista que “Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas”? (já a inversa não é verdadeira).
(P. Script.) Insisto, eu acho que você não tem positivamente a noção que caso se dispusesse a publicar as suas wild-wise revelations ( ou serão mais incitations?)teria best sellers garantidos. - Não vê que estes são os anos pós-metamorfose, e por isso da auto-complicação, da introspecção, da auto-decifração e outras coisas assim terminadas? Essas coisas são como os sapatos na montra:) têm absolutamente de se ler comprar e ler, sobretudo quando têm qualidade. Mas pronto, eu aceito que o Minho é um belo sítio para se passar férias… você lá sabe porque é que não que ir fazer um safari 6 ** na Etiópia!
"Anos a fio a ouvir histórias de amores e é sempre a mesma coisa: elas querem tudo, eles só querem uma coisa." ... mentira, tão mentira. eles (esses) tb querem as coisas todas, mas algumas, como os afectos (details...) vão buscar em outsourcing. e elas não querem sp tudo... acham q sim, mas é por defeito de formação. deve ser.
Sempre achei que existia algo de cobarde no "amor" das mulheres por sapatos. Muitas das vezes resume-se à procura de poções de vã elevação de auto-estima, sem que o violento confronto com a realidade física e a totalidade do corpo, rosto (emoções) ocorra... No momento da compra, 100% eficácia- mas é efémero, pois facilmente se acorda num mundo onde os espelhos e as interacções não estão limitados à altura do joelho.
Bolas, o amor dos homens é de longe bem mais audaz do que um amor por sapatos! (eu, pelo menos, prefiro acreditar que sim)
Outro detalhe. Não conheço nenhuma Imeldamaníaca, que por menos que tenha usado o seu sapatinho e por mais inutilidade lhe tenha associado, não o tenha guardado religiosamente na sapateira com os seus milhares de amiguinhos, para todo o sempre. Não os usa, mas estão lá, qual Selamlik. (passa-se de um "amor" físico e exibicionista para o secreto estado da recordação/veneração?)
Fiquei sorridente ao ver que as suas palavras vão poder materializar-se num futuro recente, e ganhar o cheiro da tinta e papel, e o som subtil das páginas inconstantes.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.