REGIMES: Um dos momentos mais surpreendentes do debate de ontem "Rei ou Presidente?" foi ouvir Paulo Teixeira Pinto falar da necessidade de uma política dos "afectos" e das "emoções". O outro foi ninguém ter pegado na crítica de J. Adelino Maltez ao concubinato - na presente República - da política e dos interesses económicos. Ou será que essa crítica também já faz parte da "utopia" e do "idealismo" com que se apressaram a rotular-lhe a intervenção?
Surpreendente? Não sei porquê! Corrija-me se eu estiver errado: PTP é Nº 1 da Causa Real. PTP é monárquico convicto e devotado(aliás, veterano nestas lides, do género dar-a-cara, para quem não saiba). A monarquia é precisamente um sistema inclusivo de afectos e de emoções, entre outras dimensões da pessoa e da cidadania. Ingredientes esses com que se constroem a identidade, os laços, a segurança, a memória e a tão falada auto estima. E ingredientes esses que a república relega para o plano da não racionalidade e, portanto, da não-virtude cívica. Qual é o espanto do PTP falar nisso? A CR tem muita sorte em voltar a poder contar no activo com 1 homem desta têmpera (exactamente aquela que se viu ali). Nem estou é muitoo certo que todos o tivessem conseguido acompanhar...
Concordo plenamente com o atrás exposto, apenas considero que, hoje, os laços afectivos podem ser maximizados por outras vias que não as puramente ideológicas, na acepção clássica da palavra. Até em termos pragmáticos, i.e, económicos ( e deveriam ser esse ponto a ser reforçado, uma monarquia seria muito amis profícua para o país- o Estado não teria de suportar reformas vitalícias dos PR, gastos com pessoal sempre renovado em cada demão e Portugal poderia ser promovido como a Espanha o é por vias informais como a imprensa do coração. A pós-modernidade é isto também e para se cativarem as pessoas, infelizmente, é necessário mais espectáculo, mais retórica visual e menos retórica verbal....pois o verbo já está infelizmente muito gasto- a República ensinou-nos como "as palavras, essas, levam-nas os ventos dos interesses próprios"...
Aceito que para quem não lhe conhecesse a inclinação isso e outras coisas fossem 1 surpresa. Será porque só as pessoas excepcionais conseguem ser equilibradamente 2 coisas aparentemente antitéticas? Ou melhor, porque só pessoas excepcionais conseguem perceber que racional e afectivo integram em partes iguais a espécie de «liga» que sustenta o alicerce de cada um? Não me parece, isso pode bem ser um atributo das pessoas comummente lúcidas. O que é realmente muito pouco vulgar é assumi-lo descomplexadamente. Isso sim.
mas sendo eu monárquico e não católico, julgo que a particular vivência religiosa de PTP, desde sempre conhecida, já era 1 boa pista para a descoberta desse lado «sensível» (?). Reconheço que as coisas estão no mesmíssimo plano intelectual e cognitivo.
Pois então deixe que lhe diga: sem pôr em questão os sentimentos e convicções íntimas do Dr. Teixeira Pinto, não creio que aquela pose hierática seja a mais eficaz para fazer passar a mensagem dos afectos e das emoções. Ao menos quando os destinatários não pertençam à Causa. Um bom mentor não tem que ser um bom porta-voz.
Não querendo fazer disto mais do que 1 amena troca de palavras, e ficando-me por aqui na matéria do post, percebo que para quem não seja monárquico ou simpatizante o PTP tenha defeito. Ou pelo menos um efeito desconcertante. Mesmo irritante - arriscaria eu? Isso não seria nada bom para a causa, de facto não! Aliás, o qualificativo «hierático» já lhe está colado como uma segunda pele. Mas mais pelas representações que se lhe associam de há muito: homem racional, político precoce de 1ª água, banqueiro, da Opus Dei, múltiplo nos talentos, diferente em várias coisas e escolhas (ou até bizarro) se pensarmos no padrão dominante. Convenhamos que é mais por isso do que propriamente por ele mesmo... que é, de facto, um tipo discreto, discretíssimo, diria eu. Mas não sei se reparou que pela primeira vez, se calhar, aquela feira das segundas na rtp 1 foi um debate sereno? Pois para mim muitíssimo por causa dele, que nunca foi tribuno nem incendiário. E não sei igualmente se reparou ainda na profunda atenção em que ele mergulhava as pessoas enquanto usou da palavra? Não é coisa minha, é tal qual, e as imagens captaram isso muito bem, aliás. Por isso em meu entender o PTP está até muito bem no papel, porque é um democrata verdadeiro, porque é seriíssimo (refiro-me à pessoa e não ao semblante...), porque é calmo e razoável, porque é um conversador acessível, porque é cerebral mas claríssimo nas mensagens, porque é completamente despretensioso. - Não há ruído? Ah, pois isso não há. Não é o estilo. Mas nós é que não estamos nada habituados a isso. E terminando, a minha ideia de adequação aos fins assenta nisso: a Causa Real não é panfletária nem «belicista». É extremamente atenta, introspectiva, prospectiva e transversal na política. PTP parece estar muito bem nesse domínio de pensamento e de acção (não lhe faltando nenhuma das 2 coisas). É por isso que para mim ele não é de facto o tal hierático. É sim um puro assertivo. De tipo sereno, não muito à portuguesa, é certo, mas um obreiro pensante. Ou um pensador operacional. Para mim a CR não podia pedir melhor. Ou arriscava-se a passar nas mensagens uma forma e um conteúdo que não lhe são fiéis.
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