O PÂNTANO FOI BETONADO: Tenho assistido às primárias do PSD com o mesmo vago interesse com que vou seguindo a meia maratona entre Clinton e Obama. Interesse plenamente justificado, porque tanto as legislativas portuguesas de 2009 como as presidenciais americanas de Novembro podem influir, de forma igualmente remota e indirecta, na vida das pessoas que habitam onde habito, que fazem o que faço e que têm os meus rendimentos. Curioso como a luta política nacional se transformou numa galeria psicanalítica. José Sócrates é a personificação perfeita do padrasto: a figura tirânica, arrogante e irascível de quem temos de nos queixar a todos os que encontramos. Aquele que faz questão de nos mostrar que não somos dos dele, deixando-nos as côdeas do jantar (mesmo que não se perceba exactamente quem fica com o miolo, ou, sequer, se existe miolo algum). Pedro Passos Coelho é o vizinho do lado da nossa infância. Jovial, parece que jogámos à bola com ele, podíamos ser nós. Não sabemos exactamente o que ele sabe, mas a verdade é que nunca lhe perguntámos, não sabíamos que ia chegar ali, nós também nunca pensámos em chegar ali. Santana Lopes é o tio que nos deixava acender o cigarro às escondidas. O zio do Amarcord (não o pobre do Teo, claro, mas o irresistível Pataca), que um dia nos há-de levar para a América. Permite-nos sonhar com a recuperação da grandiosa sardinhada anual para os amigos, entretanto suspensa por via da contenção orçamental familiar. Manuela Ferreira Leite é o pai por que tantos ansiavam desde que Cavaco Silva se eclipsou de S. Bento. Austero mas justo, rigoroso mas racional, exigente mas capaz de reconhecer o esforço. Mostrando até, a espaços, uma surpreendente e finíssima veia de sensibilidade, como ontem, quando asseverou, sincera, que o problema de Portugal é - quem diria - ... "social". Assim, para além de continuar a disciplinar as contas desta cambada de perdulários em que nos tornámos, o pai completa a sua figura com a indispensável dimensão da providência. Todos seremos seus filhos, poupados, trabalhadores e comedidamente felizes.
Realmente! Cada um inventa um psicodrama à sua medida. Esse "nós" é completamente irrelevante e faccioso.
"Há muita fraca memória, na Política..."
E muito paizinho e tio incompetententemente "déja vu". Ê quanto a "padrastos" há-os bem melhores que os alardeados progenitores. Quando será que Portugal se actualiza em termos mentais?
‘Ontem’, em Portugal, o PSD demarcou-se para “acabar com a festa” do despesismo e do dolce far’ niente; para acabar com os estilos de governança como se não houvesse amanhã; para introduzir rigor na vida pública; para pôr ordem na boémia poética e na ‘inteligência romântica’ das liberdades E nisso o PSD foi muitas vezes MAIS fiel ao dito 'espírito de Abril' do que o próprio PS. Mas agora que o PS resolveu brincar aos rigores do PSD e fabricar uma ‘inteligência objectiva’ das ditas liberdades; E agora que falhou rotundamente (-na inteligência? -na objectividade?) por, entre outras coisas, não conseguir aquela ressonância coerente que o humanismo confesso do segundo lhe dá (e não, não adjectivo esse humanismo, fica ao critério de cada um…)…Agora, sim, terá de reemergir para mudar o 'caldo' das reformas e dar envergadura ao pensamento e às medidas políticas que se impõem. Mas para isso só serve um certo PSD. Aquele que lhe deu coluna vertebral. O que preza acima de tudo o valor do trabalho, do mérito e da igualdade de oportunidades (por esta ordem…) Se é “o de Cavaco” ou não, eu não sei. Mas é indubitavelmente o de MFL. E nunca o do boy PPC e do patético clown PSL...
Teresa, esse comentário é um post! Mas acho que, no essencial, não estamos de acordo. Não vejo onde se esconderá o dito "humanismo" do PSD. "Humanista" não é a primeira palavra que me acorre para definir os líderes do PSD dos últimos 20 anos (à excepção, talvez, de Marcelo e Marques Mendes): Cavaco, Durão, Santana, Menezes e, eventualmente, Ferreira Leite. Todos são, decerto, boas pessoas, que gostam das pessoas, mas, como sabemos, isso não chega para ser um humanista, nem, muito menos, para adoptar políticas humanistas. Por outro lado, os valores que apresenta parecem-me demasiado gerais, capazes de atrair o consenso de (pelo menos) todo o centro. A mim interessar-me-iam coisas mais concretas. Por exemplo: já vi o que o Engº Sócrates pensa do ensino superior e da investigação científica; e as memórias que guardo de Ferreira Leite sobre o mesmo tema (como ministra das finanças e da educação) apontam num sentido muito próximo: cortar despesa, rentabilizar. Ora eu gostaria de saber, p. ex., o que ambos pensam da manutenção de cursos manifestamente "ineficientes" (p. ex., estudos clássicos), ainda que cada aluno custe ao Estado o seu peso em ouro. Já vi, também, o modo como o Engº Sócrates pensa "rentabilizar" o interior do país (de novo, cortando na despesa) e o que é capaz de fazer para atenuar a macrocefalia terceiro-mundista em que vivemos desde as Descobertas. MFL será uma alternativa? Duvido, mas cá estaremos para ver o seu programa. Enfim, como ambos sabemos, essa ideia do "PSD bom" versus "PSD vilão" tem provado ser uma fantasia...
PC: Pois, eu tinha percebido muitíssimo bem que não estaríamos de acordo...:) Mas para mim, ainda que isso fique por provar, o traço distintivo do PSD em relação ao PS é inequivocamente esse tal humanismo (continua a apetecer-me, mas não o qualifico). -Mas para quê provar? Afinal a política é uma ciência exótica, ou até, como diz demolidoramente um conhecido meu, é mais uma ciência...oculta). - O que eu disse são generalidades, não distintivas? Pode ser, mas para mim o 'pensamento político' assenta em relativamente poucas traves mestras (=gerais e imutáveis). Porque se quisermos "codificá-lo", alínea por alínea, deslizamos do 'pensamento' para o programa político, o programa de Governo, as GOP´s. e por aí fora. Que são instrumentos datados e cujas opções estruturantes podem perfeitamente variar sem que se cometa crime de heresia (ex: SNS sim ou não, propinas sim ou não, etc). Importante é que saibamos quais são os temas núcleo duro, e quais não são. E aí é se dividem as águas entre todos nós. Sei que MFL é uma humanista, sim senhor (e não só boa pessoa). Mas ainda que não tenha feito disso o seu "it" político, e sim de contas públicas e outras loisas, a senhora não é o autómato que querem que seja... (- E que tal se fosse ouvi-la ao vivo um dia destes?!) Quanto às respostas que para si são fundamentais, pois eu entendo muito bem, mas para mim cabem no reino do mutável (infelizmente, tal como acontece com a pasta da Cultura, p. ex.). Pelas mesmas razões, para mim seria fulcral saber o que ela pensa ao certo, ao certo, sobre esta vergonhosa reforma da AP em curso, mas tenho menos sorte que você, porque adivinho a resposta...) Na questão que o preocupa, eu acho que ela pediria o balanço social das FLetras, a balança corrente, relatórios de gerência... e ficavamos nos bastidores a pedir que houvese um consultor ou dois capaz de lhe dar a entender a imprescindibilidade de certas áreas de investigação e ensino, mesmo que deficitárias, porque contribuem para o superavit de uma coisa incorpórea chamada 'balança cultural' do Pais. Mas olhe: para outros, já seria a questão do sim ou não ao aborto que os faria decidir a favor ou contra o PSD. Eu, por ex. sou contra. Mas conviveria perfeitamente com as medidas actuais, a que me opus frontalmente. E mais: - até me pelava por um dia destes ver o Rui Rio (que é a favor do aborto) em São Bento... :)
Apesar de concordar em quase toda a sua descrição dos candidatos do PSD, a Teresa, no seu brilhante comentário, diz o essencial. E o que disse clarifica muitos dos equívocos formados em redor do "PSD bom" versus "PSD vilão", questão essa, que o PC também levantou. Se a MFL é Humanista? No conceito "purista" do termo, não sei... Mas uma coisa é certa, nunca no PSD se falou tanto de conceitos ideológicos como agora... Ele há os humanistas, os calvinistas (com tigre e tudo...), liberais, conservadores, hedonistas... Tudo isto discutido em prime time, na TVI com a moderação da "miss Hot lips"! Haja esperança!
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.