E conformamo-nos. A leiteira vem todos os dias, o leite é sempre igual, o dia começa sempre. As recordações começam a entardecer. Ainda não é a hora da sala vazia, do silêncio, das paredes que brincam connosco. Quase. Ainda há ruído, sempre o tom chilreado dos risos que ela lançava. Ainda não é o tempo da boca fechada, ainda temos de dormir muito. Ainda há muito para sonhar.
Gosto da ideia de recordações que entardecem. A luz da tarde é mais dourada e suave, esbate os contornos enquanto faz transbordar a essência. A dureza deixa-se permear por uma doçura impalpável porque o dia começa sempre, todos os dias, e se para nós também o ciclo há-de acabar, que seja intenso e cheio enquanto dure. O fim deixa de ser um medo para ser uma coisa que simplesmente acontece. Apesar de para sempre existirem farrapos de realidade que nos atravessam sem aviso e baralham a frágil arquitectura que nos construímos, inundam-na como uma nuvem escura e nem sempre conseguimos impedir que a trovoada estale (as secas são sempre as piores). Mas passa. Se dormirmos muito.
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