Paulo Mota Pinto sugeriu a possibilidade da realização de um referendo sobre o casamento homossexual. Os politólogos e os spins dirão muita coisa: da oportunidade, da agenda (para a ano há vários actos eleitorais e este ano já não dá tempo), dos riscos de uma derrota para o PSD, de um oportunismo qualquer; também falarão de mera jogada táctica. Isso pouco me importa. Prefiro a expressão livre dos cidadãos ao lançamento de búzios, tal como escrevi no post anterior ( I). O assunto é trivial? Não será o mais premente dos temas, mas define uma orientação cultural e uma tradição social; e ainda que o casamento seja hoje pouco mais do que um ritual tauromáquico, existem questões de igualdade a observar bem como definições do papel do estado a considerar. Também é verdade que o referendo permitiria discutir a importância da família tradicional, coisa que não me parece ser um assunto trivial. Longe disso. Não somos mais nem menos do que os californianos e alguns políticos-gelatina e hiper-inteligentes estão a precisar de adquirir solidez e simplicidade.
Pois a meu ver, não será de facto um tema "urgente", ...excepto para quem pretenda casar-se ! (...embora no caso ninguem corra o risco de chegar "de esperanças ao altar.")
No entanto a discussão não deixa de ser legitima e importante se atendermos aos assuntos subjacentes que surgem na mesa: papel da familia, figura do casamento, etc, etc.
Mas agora pergunto: Será que não se aprende nada com os referendos que já se efectuaram ? Será que ninguém poe os ´pés na terra' ?
Então com os elevados niveis de abstenção que se teem verificado em temas tão mais abrangentes, ninguém avalia a possibilidade de o mesmo referendo voltar a cair na problematica do "ser ou não ser vinculativo" ?
E depois temos os interesses co-laterais (perdoem-me o prefixo, que isto do portugues é muito traiçoeiros....oppsss... desculpem outra vez a expressão !) que se irão manifestar.
Isto é, todo o cidadão que esteja directamente ligado á industria dos casamentos: Restaurantes, Produtores de Eventos, Festas, Fotografos, Floristas, Hotelaria e Viagens de Nupcias, etc : é quase certo que por uma questão de "interesses" e não de "razão" irá tomar partido, deixando de lado as tais questões mais profundas : Papel da Familia, Figura do Matrimonio, etc.
Depois temos toda a burucracia e serviços adjacentes : Registo Civil e Cartórios, Advogados, etc : que pela mesma ordem de ideias tomara uma posição de interesses ( para os Advogados será ouro sobre azul : Mais Casamentos --> Mais Divorcios --> mais litigios --> mais honoriarios ).
Ou seja, uma coisa é a discussão no capitulo da Moral e Direitos que o assunto encerra em si mesmo, sobre a qual a Sociedade deve reflectir, responder e assumir.
Outra coisa é o pragmatismo do "dia a dia" e do mundo real, onde de facto o nivel da discussão acaba regra geral por se limitar a um foco : O MEU INTERESSE PARTICULAR NO CASO EM DISCUSSÂO : e que desvirtua a elevação e afastamento necessário a uma decisão valida para a Sociedade como um todo.
Depois temos toda a industria "politiqueira" e "markting" que tomará como tem sido costume, o Referendo, como um palco para mais "uns minutinhos de fama", e estára certamente interessada a "insuflar" a questão.
Não me choca de todo que se faça o referendo, considero no entanto que o seu resultado terá pouco a ver com uma analise objectiva da materia em apreço.
Se nos limitarmos ao pragmatismo, então o referendo tambem não fará sentido, por apreciando meramente as questões "praticas" do assunto, não me parece que ninguem seja afectado por um par de homosexuais dar o "nó" oficialmente, sendo que tal acto apenas terá reflexos na vida pessoal de cad um dos conjuges...e abordado assim a questão não vejo em que sentido Referendo traga alguma mais valia á problematica em discussão.
Como é evidente. O que está em causa transcende em muito o mero plano individual de quem tem interesse directo na questão (e parece-me que mesmo esses o reivindicam a maior parte das vezes por motivos meramente simbólicos, sem querer exactamente usar a prerrogativa) Mas porque é que este referendo havia de provocar um brainstorm sobre a matéria sujeita a consulta, quando nos outros casos a reflexão se ficou pelo que sabemos? Uns tantos paladinos e um rebanho de fashion victims... E contudo, seria bem interessante reflectir sobre o papel da família tradicional, como muito bem diz. Mas 'ná'... isto está mais para a Pasarela Cibeles!
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