Existe receio por parte dos profissionais de comunicação e marketing político pelo eventual sucesso do estilo de Manuela Ferreira Leite? Receio justificadíssimo, se uma avó de quase 70 anos, algo ríspida no trato e despreocupadamente vestida pelos catálogos de 1980 obtiver um bom resultado eleitoral. Há, no entanto, outro aspecto que me interessa. Do meu ponto de vista - não almoço na distribuição das benesses partidárias -, o mais interessante é o que pode significar para a política, e não para as vitórias eleitorais, o relativo desprendimento de MFL pelos peelings eleitorais e pelos conselhos dos wonks do marketing. A contínua produção dos líderes políticos tem efeitos variáveis consoante as culturas - até Mugabe, em tempos que já lá vão, proibiu ( sem grande sucesso) fotografias suas de dedo espetado, porque atemorizavam as pessoas -, mas envolve sempre um logro, tanto maior quanto mais cuidada for a mecânica da produção: naturaliza a função política. A naturalização, como nas representações sociais, significa uma excessiva simplificação que pode chegar ao ponto da familiariedade. Ora, a função política passa precisamente pela introdução da distância entre o político e o cidadão. Não se deve votar em alguém porque é bonito, porque é preto ou amarelo, porque faz lembrar a Tia Lola, ou porque esteve doente. O exercício do poder democrático é que pode - ou não - aproximar o político do cidadão. Essa aproximação será assim mediada pela relação exclusiva do político com o eleitor, e não por uma terceira parte que vende os seus serviços a quem oferecer mais. Esta terceira parte - as agências de sabões - é que verdadeiramente acaba por afastar o cidadão da política. Isto é importante para a saúde da politeia e de caminho evitamos os aldrabões de feira.
Caro FNV. Concordo a 100%! Resta saber, politicamente (e socialmente), o que falta para atingirmos o limiar da tolerância ao silicone. E não cair na tentação de transformar a política na novela das 9 de modo a aumentar a participação dos cidadãos na vida política (para não dizer civil).
Fica desde já convidado para daqui a alguns meses assumir os erros destas teorias originais sobre a MFL revolucionária quando a pobre senhora recolher à sua actividade exclusiva de avozinha, após uma derrota significativa nas eleições legislativas, se lá chegar, ou quando fôr afastado por outro mais populista do seu partido.
Talvez por já seres onze vezes tio-avô, captas bem estas nuances... Sigo com igual expectativa e interesse o percurso da senhora (inesperada coisa de família, vai-se a ver). Como dizia o outro (qual dos muitos exactamente escapa-me agora) "Não, não é cansaço/É uma quantidade de desilusão que se me entranha na espécie de pensar". Esta distância respeitosa (para nós, eleitorado, e para ela, futura candidata) parece-me saudável. (abraços do Max Planck e cá volto eu para a máquina de fotocópias, em relação à qual quem me dera a mim poder introduzir alguma distância, de preferência a daquela senhora bielorrussa super-eficiente que me vale aí em Coimbra...)
Pois é caro FNV pode não se tratar de ganhar eleições, para si. Mas para qualquer leader partidário sim. Mesmo para a a Dra. manuela Ferreira Leite. Gostei do que escreveu mas relativamente a MFL o estilo também existe e também é vendido. Senão porque teria dito que ia ver o neto nascer a Londres ? O que é que nós temos a ver com isso ? E a gestão do silêncio não é marketing ? Se rebobinarmos o filme diria que o 1º que manifestou esse desprendimento, a que se refere, terá sido Cavaco Silva na 1ª incarnação. Mas não terá vendido a vivenda "Mariani" e o facto se ser de familias pobres ? So what ? O contraste será com Mário Soares e não me diga que os dois ( Cavaco e Soares ) não são dois bons políticos. Cumprimentos
P.S. : se a Tia Lola for a Flores até voto nela por causa disso :))
Meu caro FNV eu discordo completamente das suas conclusões. Mas isto é apenas uma singela opinião pessoal como creio ser a sua por mais apoiantes que tenha. Eu seria incapaz de votar numa pessoa tão feia como Manuela Ferreira Leite tal como já não o fiz em relação a Durão Barroso. Não basta já termos tido até aqui tão péssimos governos como temos tido, digamos, nos pelo menos últimos 90 anos, como ainda por cima termos gente feia como PMs. A vergonha é muito maior.
Não, caro António, a coisa não se passou assim. Foi-lhe perguntado se interromperia a campanha e ela disse que sim. Foi a Londres discretamente, sem foto-ops. Carolina: boa estadia e bom trabalho.
Ó senhor predatado, deixe-me concluir o seu raciocínio: Não votou Durão Barroso nem votaria MFL porque são feios E votou no Sócrates porque é bonito? Hummmmmmmmmmmmmmmmmmm..... Tem pai que é cego...
PS- Deixe lá, qualquer dia há-de aterrar na real! E quanto 'ao resto' não desepere! (You know…:):)
Não se trata de ganhar eleições ?!? Mas foi você no seu post que referiu logo no primeiro parágrafo "um bom resultado eleitoral" !! O que é para si um bom resultado para o PSD ? Perder por poucos ? Se o Psd perder por um voto que seja no dia seguinte MFL deixa de ser líder. É tão simples como isso. E o tão aclamado estilo vai com ela, porque quem vier a seguir tem de se demarcar dele. E é nessa altura que eu vou gostar de ver a sua coragem de continuar a defender estas mesmas ideias.
"Existe receio por parte dos profissionais de comunicação e marketing político pelo eventual sucesso do estilo de Manuela Ferreira Leite? Receio justificadíssimo, se uma avó de quase 70 anos, algo ríspida no trato e despreocupadamente vestida pelos catálogos de 1980 obtiver um bom resultado eleitoral."
Só se forem maus profissionais, Filipe — os outros acharão o fenómeno bem interessante. Parabéns pelo livro.
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